domingo, 15 de julho de 2007

Um interior cada vez mais paisagem...

Em Maio tivemos uma surpreendente notícia sobre despedimentos na Delphi (empresa de cablagens localizada na Guarda), facto que para mim é sem dúvida importante uma vez que se trata de um drama social e regional! No entanto, esta situação parece não afectar outras sensibilidades, uma vez que as gafes do ministro das obras públicas sobre a Margem Sul do Tejo e outras sobre a temática da localização do novo aeroporto da Ota parecem empolgar um dramatismo sem precedentes a nível nacional.
Anteriormente já tínhamos assistido, passivamente, ao encerramento da Roche (Pinhel). Parece que no Interior estamos de facto condenados a procurar o Litoral na busca de oportunidades de emprego. Não quero imaginar aqueles cidadãos, nossos conterrâneos que se vêm de um momento sem o emprego que serve de sustento à sua vida e daqueles que os rodeiam. Portugal mantém-se tranquilo na sua crise económica, ainda que quem nos visite apenas o note ao deambular pelas ruas. Uma taxa de desemprego elevada, mesmo que nos pareça baixa em comparação com outros países. Mas para alguém que sempre viveu a trabalhar, o desemprego pode supor a perda do sentido de vida. E muito me admira que depressão económica não tenha ainda arrastado muitos para a depressão clínica, pois já imaginaram a quantidade de dúvidas, medos, frustrações, desilusões, que passam pelo pensamento das pessoas que se encontram nesta situação?
É nestas condições que damos especial valor ao fundo de desemprego. Esquecendo o facto que muitos são os que se aproveitam de um fundo justo, para o adulterar no que diz respeito ao seu objectivo, tornando-o aos nossos olhos, em algo injusto. Mas o que seria destas pessoas se não existisse este fundo quando de um momento para o outro se vêm sem nada a que se agarrar?
Perante a escassez de oportunidades no Interior, resta procurar realizar o nosso projecto de vida noutros locais: no litoral ou até mesmo no estrangeiro. Muitos serão os medos, as dúvidas, próprias de quem terá uma mudança no seu estilo de vida, no entanto algo tem de ser feito e esta via pode ser a melhor opção. Também não sei se fará sentido falar-se em opção, uma vez que optar implica escolher uma de duas ou mais coisas, o que neste caso infelizmente não acontece. Ficar de braços cruzados à espera que o governo tudo resolva é que não é certamente uma opção!
O Interior não pode continuar parado, lamentando que a administração central apenas apoia o Litoral e as Ilhas, que o Interior é sempre penalizado, que o poder está cada vez mais centralizado. São anos a bater na mesma tecla e os resultados têm sido... praticamente nulos. Para a evolução real do interior é necessário: diagnosticar e resolver rapidamente os problemas que estão mais directamente correlacionados com a falta de oportunidades de emprego, perceber quais serão as vantagens que poderemos oferecer face a outras regiões de forma a sermos mais atractivos para o tecido empresarial e potencializar essas vantagens a longo prazo, para que sejamos sempre os melhores naquilo que temos de melhor. E não contem muito com o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), porque o baú do tesouro já tem destino: o problema dramático nacional – OTA e TGV! O resto é paisagem!

Por Carlos Tavares (Consultor)

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