A Associação de Beneficência Social e Cultural de Tourais recebeu nas suas instalações provisórias no passado dia 6 de Março de 2009 a visita do Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social Dr. Vieira da Silva. Com o Sr. Ministro visitaram também a Associação o Sr. secretário de Estado da Segurança Social Dr. Pedro Marques assim como o Sr. Presidente da Segurança Social Dr. Edmundo Martinho. A visita ocorreu após visita a casa de uma utente apoiada pela Associação casa essa recuperada no âmbito do Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas (PCHI), sendo a mesma casa aquela onde foi investido mais dinheiro público num total de 34 habitações recuperadas no Concelho de Seia ao abrgo do PCHI. Mais desenvolvimento desta noticia na edição do jornal em formato de papel a sair em Abril de 2009.
segunda-feira, 9 de março de 2009
sábado, 10 de maio de 2008
Educação. Em quatro gerações muita coisa mudou
Lembro-me da minha mãe contar, que no tempo em que ela andou na escola, havia separação entre rapazes e raparigas. Os professores, no geral, eram temidos pelos alunos. Havia respeito, não ao professor, mas ao que poderia acontecer, caso o professor entende-se que o aluno tinha feito “asneiras”. Era comum, na escola, existirem réguas e/ou varas, para bater nos alunos. Contam, que alguns professores, parecia, que tinham prazer, quando aplicavam o castigo. E caso algum aluno, abandona-se a escola, ninguém o obrigava a voltar. Pura e simplesmente ia trabalhar. O diálogo entre escola, Pais e comunidade era praticamente nulo. Apenas para comunicação de notas.
Os meus avós, paternos e maternos não sabiam escrever. E no seu tempo também não havia a preocupação da educação escolar. Porque eram necessários no trabalho da terra.
Quando frequentei, o agora chamado 1º ciclo, ainda existia a régua e/ou vara, para castigar os alunos menos bem comportados. Tomei conhecimento com um destes “instrumentos”, da maneira mais dolorosa. Embora o uso dos “instrumentos” para castigar, já não fosse habitual. Já havia mais comunicação entre os Pais e a escola, Associação de Pais era coisa que ninguém, ainda, falava. E havia respeito pelos Professores.
Hoje em dia, a minha filha tem, deveres e direitos, assim como os, Pais e as escolas e a comunidade. Onde todos podem e devem contribuir para melhorar o ensino. Mas existe, algum, desrespeito pelos professores, principalmente, nos grandes centros urbanos. São realizadas reuniões, entre Pais, Director de turma, Associação de Pais e escola. Existe ainda o Conselho Escolar, onde podem e devem, fazer parte a Associação de Pais, alunos, professores, o Director da escola e representantes das comunidades locais. Onde se discute, quais são os assuntos mais importantes que a escola deve focalizar. Financeiros, de comunicação ou sobre o bem-estar dos estudantes na escola, entre outros.
Com esta resumida história da evolução no ensino, podemos observar que em 4 gerações, muita coisa mudou, para melhor. E como em tudo, nem sempre se evolui para melhor em todos os aspectos. É o caso da falta de respeito de, alguns, alunos pelos professores. A insuficiência das verbas existentes. Entre outras coisas.
Penso que os direitos e deveres existentes são suficientes, faltando limar algumas arestas. Sendo sempre necessário que, todos os que participam na educação, com alunos incluídos, cumpram esses mesmos direitos e deveres existentes.
O problema é que por defeito ou feitio, muitos dos participantes na educação pensam que só têm direitos, os deveres logo se vê. E não excluo nenhum dos participantes.
Os Pais, quase que delegam a educação dos filhos na escola. Já vi alguns, desde o infantário, que “despejam” literalmente os filhos na escola. E depois inscrevem-nos, em muitas actividades, para assim estarem ocupados todo o dia. A educação que deveria ser dada em casa, não existe. Um miúdo(a) sem os princípios básicos da educação, nunca poderá respeitar o professor. Nem conhece os seus direitos só deveres. Os Pais têm o direito de exigir da escola uma boa educação para o seu filho se, conseguirem cumprir o dever de educar e participar no percurso escolar do seu filho.
As escolas, lutam com falta de instalações, professores, auxiliares e dinheiro. Não conseguem cumprir com os seus deveres, porque não cumprem com os seus, direitos.
Ou seja se todos cumprirem os deveres, exigidos a cada interveniente, tendo os Pais uma importância fundamental neste processo, conseguimos que os direitos, de todos, sejam satisfeitos.
Os meus avós, paternos e maternos não sabiam escrever. E no seu tempo também não havia a preocupação da educação escolar. Porque eram necessários no trabalho da terra.
Quando frequentei, o agora chamado 1º ciclo, ainda existia a régua e/ou vara, para castigar os alunos menos bem comportados. Tomei conhecimento com um destes “instrumentos”, da maneira mais dolorosa. Embora o uso dos “instrumentos” para castigar, já não fosse habitual. Já havia mais comunicação entre os Pais e a escola, Associação de Pais era coisa que ninguém, ainda, falava. E havia respeito pelos Professores.
Hoje em dia, a minha filha tem, deveres e direitos, assim como os, Pais e as escolas e a comunidade. Onde todos podem e devem contribuir para melhorar o ensino. Mas existe, algum, desrespeito pelos professores, principalmente, nos grandes centros urbanos. São realizadas reuniões, entre Pais, Director de turma, Associação de Pais e escola. Existe ainda o Conselho Escolar, onde podem e devem, fazer parte a Associação de Pais, alunos, professores, o Director da escola e representantes das comunidades locais. Onde se discute, quais são os assuntos mais importantes que a escola deve focalizar. Financeiros, de comunicação ou sobre o bem-estar dos estudantes na escola, entre outros.
Com esta resumida história da evolução no ensino, podemos observar que em 4 gerações, muita coisa mudou, para melhor. E como em tudo, nem sempre se evolui para melhor em todos os aspectos. É o caso da falta de respeito de, alguns, alunos pelos professores. A insuficiência das verbas existentes. Entre outras coisas.
Penso que os direitos e deveres existentes são suficientes, faltando limar algumas arestas. Sendo sempre necessário que, todos os que participam na educação, com alunos incluídos, cumpram esses mesmos direitos e deveres existentes.
O problema é que por defeito ou feitio, muitos dos participantes na educação pensam que só têm direitos, os deveres logo se vê. E não excluo nenhum dos participantes.
Os Pais, quase que delegam a educação dos filhos na escola. Já vi alguns, desde o infantário, que “despejam” literalmente os filhos na escola. E depois inscrevem-nos, em muitas actividades, para assim estarem ocupados todo o dia. A educação que deveria ser dada em casa, não existe. Um miúdo(a) sem os princípios básicos da educação, nunca poderá respeitar o professor. Nem conhece os seus direitos só deveres. Os Pais têm o direito de exigir da escola uma boa educação para o seu filho se, conseguirem cumprir o dever de educar e participar no percurso escolar do seu filho.
As escolas, lutam com falta de instalações, professores, auxiliares e dinheiro. Não conseguem cumprir com os seus deveres, porque não cumprem com os seus, direitos.
Ou seja se todos cumprirem os deveres, exigidos a cada interveniente, tendo os Pais uma importância fundamental neste processo, conseguimos que os direitos, de todos, sejam satisfeitos.
Nuno Pinheiro
E PLURIBUS UNUM:COMUNIDADE, ESCOLA E FAMÍLIA
Juntá-las para falar de ou escrever sobre as relações que devem existir entre elas no vasto mundo da Educação, particularmente na obtenção de eficácia nas aprendizagens, é o osso que tendes para roer público inventivo, as queixas ou os protestos ou o mal estar devem ser endereçados ao jornal “A Partilha”, eu estou aqui para apoiar, atiçar a fogueira, fornecer indicações, enfim o habitual, mãos à obra, só temos até 28 de Fevereiro apesar de o ano ser bissexto, não sei se é engano da Redacção nem quero saber, por favor isto é para já, naturalmente constituireis grupos mas depois da pesquisa, da discussão e da apresentação por cada equipa quero uma síntese geral em PowerPoint para enviar, pronto fui beber uma água com o Fernando Mendes, podeis consultar o público que vos convier.
Ponto da situação.
Dizem os “matemáticos geniais”(MG) que o conjunto comunidade contém um número considerável de subconjuntos, por exemplo os nossos pais, mais geralmente os nossos familiares, os políticos profissionais e amadores, as autoridades civis, militares e religiosas, os alunos das diferentes escolas, e mais e mais, adiante, afinal a comunidade somos nós e os não referidos que também fazem parte, está bem, agradeço não me terem esquecido, mas, por favor, entendam-se e indiquem com clareza a propriedade que caracteriza o conjunto.
Dizem os “docentes de asa ferida”(DAF) que a escola continua a padecer de males internos que nem a denúncia fundamentada e diária junto da opinião pública e de quem de direito consegue levar a uma urgência: à falta de professores e de afectos, segue-se a falta de técnicos administrativos e auxiliares bem acompanhados pela falta de equipamentos e de condições, está bem, mas que faltas são as nossas no nosso dia-a-dia, aqui? por exemplo, faltarão estudantes? sem provocação, faltarão métodos e técnicas actualizadas, quais?
Dizem os “sociólogos comprometidos”(SC) que é difícil falar da família em abstracto ou da forma tradicional, pensa-se que se sabe tudo e vai-se a ver a guerra dos sexos voltou aos ecrãs sob novas e múltiplas aparências, conduzindo a situações díspares envolvendo os alunos, os pais, os encarregados de educação e outros não previstos, e também os professores, as autoridades escolares, o pessoal administrativo e auxiliar, ninguém fica de fora, o processo é tipicamente democrático, pois, se continuamos adeus ó família que foste vinha vindimada.
Um esforço de contenção.
Os MG delimitam o território que consideram rural e mantêm a ideia de que a comunidade somos nós, os habitantes deste espaço, não importa em que situação, com uma esclarecidíssima ideia, pessoal e colectiva, sobre a educação e sobre a escola em particular, o que impõe a obrigação de pressão diária e continuada sobre os diferentes sectores da vida escolar e dos seus actores.
Os DAF sem quererem parecer piegas com o amor com que se entregam aos alunos lembram as altas habilitações, de licenciaturas e pós-graduações nem se fala, mestrados à vista a dar por um pau, doutoramentos a espreitar, e em numerosos casos uma ida e volta diária de umas dezenas de quilómetros, causa de stress a juntar a outras patologias de proveniências inesperadas e a outras despesas e duplicações.
Os SC destacam sem falsos alarmes as relações de violência que poderão ocorrer aqui por muito que nos custe, entre professores, entre familiares extremosos e professores, entre alunos e professores, o pessoal auxiliar a ver no que param as modas também entra, em alguns casos o Conselho Executivo e os alunos ensanguentando-se com meiguice entre si não ficam atrás: é a guerra; não é, é um cenário de alerta, sem dúvida pintado com ocorrências mais ou menos mediáticas, embora o dicionário do calão e algumas ameaças mais ou menos expressivas tenham chegado para as encomendas na maior parte dos casos.
Assim não vamos lá. E as aprendizagens?
Dizem os MG: se a comunidade é uma fonte de pressão no mau sentido, sempre com queixinhas, também pode ser uma no bom. Mais: pode e deve ser um parceiro com iniciativas e desafios poderosos que contribuam para a nossa aprendizagem.
Dizem os DAF: com todos os defeitos pessoais e todas as faltas que se apregoam sempre se ensinou e se orientaram as aprendizagens, não é agora que vai ser diferente passem as modas o que passar, sempre se actualizou a formação, com ou sem ajudas de custo, e não é costume descurar a formação pessoal.
Dizem os SC: apesar das novas condições parentais, das características conhecidas dos diferentes grupos, alguma conflituosidade não é necessariamente má, pondo de lado o que faz perder o sério à Comunicação Social.
E vai daí.
Primeiro diapositivo: A Câmara, através do Pelouro da Cultura, o CISE, o Museu do Pão, o Cine Eco, os Ranchos Folclóricos, as Bandas, os Grupos Desportivos, as Igrejas, a Indústria, o Comércio, a Agricultura, o Artesanato, devem oferecer à escola conjuntos de incentivos e de actividades que desafiem a comunidade escolar. À escola competirá integrá-las no plano e cooperar.
NB: não se pedem toneladas mas alguns gramas significativos.
Segundo diapositivo: as actividades atrás sugeridas terão com certeza desenvolvimento na sala de aula, integradas nos conteúdos e actividades usuais da disciplina ou na actividade programada pela escola.
NB: quem sabe se não ajudarão a ultrapassar algumas falhas.
Terceiro diapositivo: é verdade que sem alunos não há escola, mas sem professores não sendo impossível é difícil. Os tempos são outros, ultrapassada está a reverência ao mestre mas não está o respeito devido a um profissional, que falha como qualquer profissional, como qualquer pai ou encarregado de educação ou simplesmente como qualquer ser humano.
NB: embora soe bem que um professor deve ser um missionário e outras bondades, não fica mal evidenciar que tem uma profissão, aliás recentemente votada por maioria, como a Comunicação Social não se cansou de apregoar, no seguimento de outras votações do mesmo cariz em anos anteriores.
Quarto diapositivo: a ou as famílias são melhores que o código postal. É pena que, inventando por vezes as mais estranhas e delirantes desculpas, se demitam do papel educativo.
NB: a escola não substitui a casa de cada um, mesmo na falta dela.
Quinto diapositivo: a conflituosidade é componente integrante de qualquer processo de aprendizagem.
NB: eu que me insulto branda mas energicamente quando não percebo à primeira, às vezes nem à décima; eu quando não aceito as explicações e me atiro para a discussão.
Sexto diapositivo: todos por um e um por todos não somos demais para levar a nossa escola ao colo.
NB: adaptando John Kennedy: a escola tem feito por mim o que se sabe, e eu que posso fazer por ela?
Luís Alves Martins
Ponto da situação.
Dizem os “matemáticos geniais”(MG) que o conjunto comunidade contém um número considerável de subconjuntos, por exemplo os nossos pais, mais geralmente os nossos familiares, os políticos profissionais e amadores, as autoridades civis, militares e religiosas, os alunos das diferentes escolas, e mais e mais, adiante, afinal a comunidade somos nós e os não referidos que também fazem parte, está bem, agradeço não me terem esquecido, mas, por favor, entendam-se e indiquem com clareza a propriedade que caracteriza o conjunto.
Dizem os “docentes de asa ferida”(DAF) que a escola continua a padecer de males internos que nem a denúncia fundamentada e diária junto da opinião pública e de quem de direito consegue levar a uma urgência: à falta de professores e de afectos, segue-se a falta de técnicos administrativos e auxiliares bem acompanhados pela falta de equipamentos e de condições, está bem, mas que faltas são as nossas no nosso dia-a-dia, aqui? por exemplo, faltarão estudantes? sem provocação, faltarão métodos e técnicas actualizadas, quais?
Dizem os “sociólogos comprometidos”(SC) que é difícil falar da família em abstracto ou da forma tradicional, pensa-se que se sabe tudo e vai-se a ver a guerra dos sexos voltou aos ecrãs sob novas e múltiplas aparências, conduzindo a situações díspares envolvendo os alunos, os pais, os encarregados de educação e outros não previstos, e também os professores, as autoridades escolares, o pessoal administrativo e auxiliar, ninguém fica de fora, o processo é tipicamente democrático, pois, se continuamos adeus ó família que foste vinha vindimada.
Um esforço de contenção.
Os MG delimitam o território que consideram rural e mantêm a ideia de que a comunidade somos nós, os habitantes deste espaço, não importa em que situação, com uma esclarecidíssima ideia, pessoal e colectiva, sobre a educação e sobre a escola em particular, o que impõe a obrigação de pressão diária e continuada sobre os diferentes sectores da vida escolar e dos seus actores.
Os DAF sem quererem parecer piegas com o amor com que se entregam aos alunos lembram as altas habilitações, de licenciaturas e pós-graduações nem se fala, mestrados à vista a dar por um pau, doutoramentos a espreitar, e em numerosos casos uma ida e volta diária de umas dezenas de quilómetros, causa de stress a juntar a outras patologias de proveniências inesperadas e a outras despesas e duplicações.
Os SC destacam sem falsos alarmes as relações de violência que poderão ocorrer aqui por muito que nos custe, entre professores, entre familiares extremosos e professores, entre alunos e professores, o pessoal auxiliar a ver no que param as modas também entra, em alguns casos o Conselho Executivo e os alunos ensanguentando-se com meiguice entre si não ficam atrás: é a guerra; não é, é um cenário de alerta, sem dúvida pintado com ocorrências mais ou menos mediáticas, embora o dicionário do calão e algumas ameaças mais ou menos expressivas tenham chegado para as encomendas na maior parte dos casos.
Assim não vamos lá. E as aprendizagens?
Dizem os MG: se a comunidade é uma fonte de pressão no mau sentido, sempre com queixinhas, também pode ser uma no bom. Mais: pode e deve ser um parceiro com iniciativas e desafios poderosos que contribuam para a nossa aprendizagem.
Dizem os DAF: com todos os defeitos pessoais e todas as faltas que se apregoam sempre se ensinou e se orientaram as aprendizagens, não é agora que vai ser diferente passem as modas o que passar, sempre se actualizou a formação, com ou sem ajudas de custo, e não é costume descurar a formação pessoal.
Dizem os SC: apesar das novas condições parentais, das características conhecidas dos diferentes grupos, alguma conflituosidade não é necessariamente má, pondo de lado o que faz perder o sério à Comunicação Social.
E vai daí.
Primeiro diapositivo: A Câmara, através do Pelouro da Cultura, o CISE, o Museu do Pão, o Cine Eco, os Ranchos Folclóricos, as Bandas, os Grupos Desportivos, as Igrejas, a Indústria, o Comércio, a Agricultura, o Artesanato, devem oferecer à escola conjuntos de incentivos e de actividades que desafiem a comunidade escolar. À escola competirá integrá-las no plano e cooperar.
NB: não se pedem toneladas mas alguns gramas significativos.
Segundo diapositivo: as actividades atrás sugeridas terão com certeza desenvolvimento na sala de aula, integradas nos conteúdos e actividades usuais da disciplina ou na actividade programada pela escola.
NB: quem sabe se não ajudarão a ultrapassar algumas falhas.
Terceiro diapositivo: é verdade que sem alunos não há escola, mas sem professores não sendo impossível é difícil. Os tempos são outros, ultrapassada está a reverência ao mestre mas não está o respeito devido a um profissional, que falha como qualquer profissional, como qualquer pai ou encarregado de educação ou simplesmente como qualquer ser humano.
NB: embora soe bem que um professor deve ser um missionário e outras bondades, não fica mal evidenciar que tem uma profissão, aliás recentemente votada por maioria, como a Comunicação Social não se cansou de apregoar, no seguimento de outras votações do mesmo cariz em anos anteriores.
Quarto diapositivo: a ou as famílias são melhores que o código postal. É pena que, inventando por vezes as mais estranhas e delirantes desculpas, se demitam do papel educativo.
NB: a escola não substitui a casa de cada um, mesmo na falta dela.
Quinto diapositivo: a conflituosidade é componente integrante de qualquer processo de aprendizagem.
NB: eu que me insulto branda mas energicamente quando não percebo à primeira, às vezes nem à décima; eu quando não aceito as explicações e me atiro para a discussão.
Sexto diapositivo: todos por um e um por todos não somos demais para levar a nossa escola ao colo.
NB: adaptando John Kennedy: a escola tem feito por mim o que se sabe, e eu que posso fazer por ela?
Luís Alves Martins
quarta-feira, 30 de abril de 2008
sexta-feira, 18 de abril de 2008
A Educação
A Educação é um processo complexo, com muitas vertentes, mas que pode resumir-se assim: conjunto de actos que têm como objectivo formar integralmente, harmoniosamente, a pessoa humana, em ordem à sua realização plena. Tão completa quanto possível e sempre em ordem a servir, a melhorar, a sociedade em que o educando se insere. Este princípio adapta-se a todas as filosofias e culturas dominantes.
Como a natureza humana é de índole psicossomática, corporal e espiritual, a Educação não será completa se não tiver em conta as dimensão física, afectiva, intelectual, moral, social, cultural, espiritual e religiosa da pessoa. Educação que fuja a uma só destas vertentes, falhará. Será tudo, menos Educação. Esta deverá ser integral e harmoniosa, como se diz no princípio.
Necessitam de Educação todos os seres humanos, desde o princípio ao fim da sua vida neste mundo, tendo em conta as diversas fases da vida por que passam: na infância, todos somos mais receptivos e por isso devemos adquirir as bases, os conhecimentos vitais, que vão formando o carácter, em ordem ao discernimento moral, à prática da Verdade e do Bem. A adolescência exige uma correcta educação dos afectos, a que podemos chamar educação sexual, saudável, que não seja apenas biológica, uma espécie de mercadoria estragada, presente envenenado, que certos interesses, certos poderes e certos poderosos pretendem impingir. Na juventude, a Educação deverá orientar-se no sentido da integração social, das escolhas, profissional e outras. Na fase adulta e mesmo na velhice, a Educação assume aspectos específicos, seja para actualizar conhecimentos e competências, seja para aprofundar as grandes realidades da vida ou até para enfrentar as crises da idade e da saúde. A Educação deve acompanhar todo o nosso existir no tempo, respeitar a maneira de ser de cada pessoa e motivá-la a colaborar na sua formação. Para quem for cristão, a face mais nobre da Educação consiste em configurar-se a Jesus Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Isso condiciona todo o seu agir.
Quem deve educar? Essa é a grande questão. Nos diversos agentes educativos surge, em primeiro lugar a Família, os pais, como primeiros e principais educadores dos filhos. Vem a seguir a Escola, nos seus vários níveis, com maior impacto no Básico. Também a Sociedade Urbana, com os potentes meios (televisão, telemóveis, computadores, Internet) de que dispõe influencia a educação de “massas”. O Estado tem obrigação de defender e promover o bem comum, respeitando os direitos/deveres dos restantes agentes educativos, entre os quais se situa a Igreja. Igreja que está presente em todos os outros agentes, quer agindo em jeito de fermento e sal na massa, quer como Instituição, amparando a Família com uma pastoral familiar adequada, a Escola com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, o Estado, utilizando os meios que lhe são próprios. A Constituição Pastoral Gaudim et Spes termina o seu número 31 assim: “...o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberam dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar”.
A Educação é isso que acabamos de enumerar. Contudo, se olharmos à volta deparamos com a decepcionante realidade em que estamos mergulhados em termos educativos, mormente nas camadas jovens da população. Cito apenas dois focos: a indisciplina escolar e a criminalidade.
Sua Excelência, o senhor Presidente da República, ao chegar de uma visita de Estado ao Brasil, sentiu-se mal ao visualizar um filme em que, numa escola do norte do País, uma professora era espectacularmente agredida por uma aluna do 9º ano. Chamou a Belém o senhor Procurador Geral da República com quem, à hora em que redigimos estas linhas, esperamos esteja a analisar o problema e o que lhe está na base. Não se vislumbra que medidas vão ser tomadas em ordem a dar uma volta positiva a este género de ocorrência, porque a gestão do Ministério que tutela as escolas não tem sido feita com a serenidade e o bom senso indispensáveis à sua solução cabal.
Nas áreas do crime, deparamos com os responsáveis políticos a pincelar tudo em tonalidades róseas. E no entanto, a realidade é preocupante. É caso para admirar? Não. Se nas escolas acontece o que se sabe, o que não há-de acontecer na rua!...
Ouvimos há dias o senhor ministro que gere os diversos órgãos policiais do nosso País dizer que, para solucionar o problema do crime bastaria coordenar o trabalho da Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e Polícia Judiciária. Isso basta? Não valerá a pena investir, também, a montante?
É na Escola que tudo começa...
Amadeu Gonçalves - in jornal "A Partilha", edição de Abril 2008
Como a natureza humana é de índole psicossomática, corporal e espiritual, a Educação não será completa se não tiver em conta as dimensão física, afectiva, intelectual, moral, social, cultural, espiritual e religiosa da pessoa. Educação que fuja a uma só destas vertentes, falhará. Será tudo, menos Educação. Esta deverá ser integral e harmoniosa, como se diz no princípio.
Necessitam de Educação todos os seres humanos, desde o princípio ao fim da sua vida neste mundo, tendo em conta as diversas fases da vida por que passam: na infância, todos somos mais receptivos e por isso devemos adquirir as bases, os conhecimentos vitais, que vão formando o carácter, em ordem ao discernimento moral, à prática da Verdade e do Bem. A adolescência exige uma correcta educação dos afectos, a que podemos chamar educação sexual, saudável, que não seja apenas biológica, uma espécie de mercadoria estragada, presente envenenado, que certos interesses, certos poderes e certos poderosos pretendem impingir. Na juventude, a Educação deverá orientar-se no sentido da integração social, das escolhas, profissional e outras. Na fase adulta e mesmo na velhice, a Educação assume aspectos específicos, seja para actualizar conhecimentos e competências, seja para aprofundar as grandes realidades da vida ou até para enfrentar as crises da idade e da saúde. A Educação deve acompanhar todo o nosso existir no tempo, respeitar a maneira de ser de cada pessoa e motivá-la a colaborar na sua formação. Para quem for cristão, a face mais nobre da Educação consiste em configurar-se a Jesus Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Isso condiciona todo o seu agir.
Quem deve educar? Essa é a grande questão. Nos diversos agentes educativos surge, em primeiro lugar a Família, os pais, como primeiros e principais educadores dos filhos. Vem a seguir a Escola, nos seus vários níveis, com maior impacto no Básico. Também a Sociedade Urbana, com os potentes meios (televisão, telemóveis, computadores, Internet) de que dispõe influencia a educação de “massas”. O Estado tem obrigação de defender e promover o bem comum, respeitando os direitos/deveres dos restantes agentes educativos, entre os quais se situa a Igreja. Igreja que está presente em todos os outros agentes, quer agindo em jeito de fermento e sal na massa, quer como Instituição, amparando a Família com uma pastoral familiar adequada, a Escola com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, o Estado, utilizando os meios que lhe são próprios. A Constituição Pastoral Gaudim et Spes termina o seu número 31 assim: “...o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberam dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar”.
A Educação é isso que acabamos de enumerar. Contudo, se olharmos à volta deparamos com a decepcionante realidade em que estamos mergulhados em termos educativos, mormente nas camadas jovens da população. Cito apenas dois focos: a indisciplina escolar e a criminalidade.
Sua Excelência, o senhor Presidente da República, ao chegar de uma visita de Estado ao Brasil, sentiu-se mal ao visualizar um filme em que, numa escola do norte do País, uma professora era espectacularmente agredida por uma aluna do 9º ano. Chamou a Belém o senhor Procurador Geral da República com quem, à hora em que redigimos estas linhas, esperamos esteja a analisar o problema e o que lhe está na base. Não se vislumbra que medidas vão ser tomadas em ordem a dar uma volta positiva a este género de ocorrência, porque a gestão do Ministério que tutela as escolas não tem sido feita com a serenidade e o bom senso indispensáveis à sua solução cabal.
Nas áreas do crime, deparamos com os responsáveis políticos a pincelar tudo em tonalidades róseas. E no entanto, a realidade é preocupante. É caso para admirar? Não. Se nas escolas acontece o que se sabe, o que não há-de acontecer na rua!...
Ouvimos há dias o senhor ministro que gere os diversos órgãos policiais do nosso País dizer que, para solucionar o problema do crime bastaria coordenar o trabalho da Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e Polícia Judiciária. Isso basta? Não valerá a pena investir, também, a montante?
É na Escola que tudo começa...
Amadeu Gonçalves - in jornal "A Partilha", edição de Abril 2008
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Acessibilidades
Depois de anos em que se desvalorizou o papel das vias de comunicação no desenvolvimento da região da Beira – Serra, particularmente nos concelhos de Gouveia, Seia e Oliveira do Hospital, com discussões pontuais à volta do Plano Rodoviário Nacional de 2000, eis que o actual governo apresentou aos autarcas e associações empresariais dos distritos da Guarda, Viseu, Coimbra e Castelo Branco, no início do passado mês de Outubro, três propostas de traçado para as vias que pretende construir. Estas vias visam retirar do isolamento as regiões referidas, permitindo simultaneamente ligar os principais centros urbanos: Viseu, Covilhã, Guarda e Coimbra.
Não que a região acima referida se encontre isolada, mas as vias de comunicação que servem os três concelhos não são compatíveis com as exigências da sociedade actual, em que os factores tempo e acessibilidades são, cada vez mais, elementos a ter em conta quando se trata de sensibilizar empresários a investir em determinada região e aí criar postos de trabalho e riqueza, o que se reflecte em todo o tecido social. A facilidade de acesso aos grandes centros urbanos, com todas as ofertas a eles associados (trabalho, lazer, saúde…), é um elemento decisivo, que condiciona a instalação das pessoas e dos bens de produção. As vias de comunicação que agora se discutem permitirão que as pessoas se desloquem diariamente para trabalhar a muitos quilómetros de distância sem terem que abandonar os locais onde sempre viveram, contribuindo para manter vivas as cada vez menos habitadas aldeias da nossa região. Por outro lado, possibilitarão a chegada mais fácil de pessoas que aqui venham trabalhar / estudar / fazer turismo. Permitirão que se tenha a Saúde “mais próxima”, visto ficarmos ligados a bons centros hospitalares de uma forma muito mais rápida. O empresário terá possibilidade de escoar mais facilmente os seus produtos, sem estar “cercado” de semáforos que abundam nas estradas principais da região.
Das três propostas apresentadas para discussão, uma tem a sua origem no Plano Rodoviário Nacional de 2000 (Chamemos-lhe cenário A). Prevê uma ligação de Coimbra à Covilhã (IC6), passando pela vertente ocidental da Serra do Açor. Do nó de Tábua surgiria o IC7, num traçado algo semelhante à actual estrada nacional 17 (estrada da Beira), entroncando a A25 em Celorico da Beira. Incluiria ainda a construção do IC37, que ligaria Viseu ao IC7 na zona de Santa Comba de Seia.
Outro cenário (B) prevê a ligação de Coimbra a Fornos de Algodres através de um traçado semelhante ao do IC7 do PRN 2000, excepto na sua ligação à A25, que deixaria de se fazer em Celorico da Beira (esta estrada seria o IC6 deste mapa). Viseu seria ligada à Covilhã através de uma via que cruzaria este IC6 na zona norte do concelho de Oliveira do Hospital, e daí sairia a ligação à Covilhã através da vertente sul da Serra da Estrela (seria o IC7 deste mapa).
O terceiro cenário (C) inclui uma ligação de Coimbra a Celorico da Beira através do IC6 (semelhante ao IC7 do cenário PRN 2000 do cenário A), e uma ligação de Viseu à Covilhã atravessando a Serra da Estrela por um túnel que surgiria na zona de Santa Marinha - Paços da Serra e serviria também Manteigas (não é claro se seria um túnel até Manteigas e outro a ligar esta cidade à Covilhã). Seria o IC7 deste mapa.
Confusos com esta terminologia? Quando falamos de IC6, IC7, IC37 falamos de que mapa? Será que é intencional esta mudança de nomes? E ainda não sabemos que perfis terão estes IC’s! Provavelmente não serão auto-estradas, mas ainda não vi isto esclarecido.
Todos os cenários têm vantagens e desvantagens, dependendo sempre da perspectiva do analista. O cenário A seria o ideal para as populações das margens do Alva, mas não corresponde às necessidades dos três concelhos em termos de ligação a Coimbra e à Covilhã. Tem a vantagem para Seia da ligação mais rápida a Viseu ser estabelecida na zona central desta grande região. Não podemos esquecer que a ligação rápida a Viseu significa também ligação a Nelas / Linha da Beira Alta, a todo o Litoral – Norte do país, bem como à A24 e zona da Galiza, na nossa vizinha Espanha.
O cenário B melhoraria as acessibilidades do concelho de Oliveira do Hospital e zona sul do concelho de Seia, mas seria menos favorável para Gouveia e zona norte do concelho de Seia, pois a ligação a Viseu e, por consequência, às zonas Norte e Litoral – Norte, bem como a ligação à Covilhã, estariam longe de ser as ideais. Uma estrada que se quer de fácil circulação, nesta encosta da serra, estará sempre condicionada à execução de muitas obras de engenharia (viadutos, pontes e túneis, ou não será nunca uma via rápida), cujo impacto ambiental será muito importante a ter em conta.
O cenário C parece ser o mais favorável aos três concelhos, vistos como um todo. Seia, por ser o centro de toda esta zona, poderá ser o concelho mais favorecido. Permitiria ligar o Norte e Litoral – Norte ao Interior Centro e Sul, ligar Coimbra à Covilhã e à Guarda / Espanha, com estas vias a cruzarem “frente “ à cidade de Seia, próximo à zona industrial da Abrunheira, com ligações fáceis aos pólos industriais de Oliveira do Hospital e Paranhos da Beira. Dos três, é o cenário que melhor serve Gouveia e Seia, sem comprometer minimamente os interesses de Oliveira do Hospital. Teríamos uma ligação à Cova da Beira muito mais rápida, sem estarmos dependentes das condições climatéricas que por vezes dificultam a circulação na zona da Serra da Estrela. O turista teria facilmente várias portas de acesso à Serra da Estrela, libertando-se o maciço central para aqueles que verdadeiramente o querem apreciar e fruir. Penso que a solução “túneis” seria também a que causaria menor impacto ambiental, atendendo às obras de engenharia necessárias para contornar as Serras do Açor ou da Estrela, o que acontece nos outros cenários. Há quem argumente que esta solução seria impraticável, pelos custos financeiros da obra, e só serviria para adiar a solução do problema. No entanto, quando as propostas foram feitas, o custo da construção do túnel não se pôs; todos os cenários seriam viáveis, mesmo financeiramente.
Os elementos solicitados à empresa que elaborou estes traçados, e que poderiam ajudar a emitir uma opinião mais fundamentada sobre a escolha dos melhores traçados, não foram ainda fornecidos. O prazo dado para as várias entidades regionais se pronunciarem há muito foi ultrapassado.
O Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações presidiu entretanto ao lançamento do concurso público para a construção do troço de 22 km do IC6 entre Catraia dos Poços e o nó de Tábua (cujos estudos se iniciaram há vários anos), que dará continuidade ao troço já construído até à Raiva. Referindo que não há ainda estudos para os restantes traçados, mantém a intenção de se tomarem decisões sobre eles já em Janeiro!!!
O Ministro das Obras Públicas Transportes e Comunicações anunciou também uma nova ligação de Celorico da Beira a Trancoso, com perfil de auto-estrada. Enquanto isto, os três concelhos a sul continuam a não falar a uma só voz.
Temo que daqui resulte, uma vez mais, um adiar da tomada de decisões, agora com o argumento de que os que deveriam ser mais beneficiados não se entendem. Penso que, mesmo com decisão, muitos anos de estudos se seguirão antes que surja algo de concreto que possa servir efectivamente este território.
Profeta da desgraça? Como desejo estar enganado!!!
Não que a região acima referida se encontre isolada, mas as vias de comunicação que servem os três concelhos não são compatíveis com as exigências da sociedade actual, em que os factores tempo e acessibilidades são, cada vez mais, elementos a ter em conta quando se trata de sensibilizar empresários a investir em determinada região e aí criar postos de trabalho e riqueza, o que se reflecte em todo o tecido social. A facilidade de acesso aos grandes centros urbanos, com todas as ofertas a eles associados (trabalho, lazer, saúde…), é um elemento decisivo, que condiciona a instalação das pessoas e dos bens de produção. As vias de comunicação que agora se discutem permitirão que as pessoas se desloquem diariamente para trabalhar a muitos quilómetros de distância sem terem que abandonar os locais onde sempre viveram, contribuindo para manter vivas as cada vez menos habitadas aldeias da nossa região. Por outro lado, possibilitarão a chegada mais fácil de pessoas que aqui venham trabalhar / estudar / fazer turismo. Permitirão que se tenha a Saúde “mais próxima”, visto ficarmos ligados a bons centros hospitalares de uma forma muito mais rápida. O empresário terá possibilidade de escoar mais facilmente os seus produtos, sem estar “cercado” de semáforos que abundam nas estradas principais da região.
Das três propostas apresentadas para discussão, uma tem a sua origem no Plano Rodoviário Nacional de 2000 (Chamemos-lhe cenário A). Prevê uma ligação de Coimbra à Covilhã (IC6), passando pela vertente ocidental da Serra do Açor. Do nó de Tábua surgiria o IC7, num traçado algo semelhante à actual estrada nacional 17 (estrada da Beira), entroncando a A25 em Celorico da Beira. Incluiria ainda a construção do IC37, que ligaria Viseu ao IC7 na zona de Santa Comba de Seia.
Outro cenário (B) prevê a ligação de Coimbra a Fornos de Algodres através de um traçado semelhante ao do IC7 do PRN 2000, excepto na sua ligação à A25, que deixaria de se fazer em Celorico da Beira (esta estrada seria o IC6 deste mapa). Viseu seria ligada à Covilhã através de uma via que cruzaria este IC6 na zona norte do concelho de Oliveira do Hospital, e daí sairia a ligação à Covilhã através da vertente sul da Serra da Estrela (seria o IC7 deste mapa).
O terceiro cenário (C) inclui uma ligação de Coimbra a Celorico da Beira através do IC6 (semelhante ao IC7 do cenário PRN 2000 do cenário A), e uma ligação de Viseu à Covilhã atravessando a Serra da Estrela por um túnel que surgiria na zona de Santa Marinha - Paços da Serra e serviria também Manteigas (não é claro se seria um túnel até Manteigas e outro a ligar esta cidade à Covilhã). Seria o IC7 deste mapa.
Confusos com esta terminologia? Quando falamos de IC6, IC7, IC37 falamos de que mapa? Será que é intencional esta mudança de nomes? E ainda não sabemos que perfis terão estes IC’s! Provavelmente não serão auto-estradas, mas ainda não vi isto esclarecido.
Todos os cenários têm vantagens e desvantagens, dependendo sempre da perspectiva do analista. O cenário A seria o ideal para as populações das margens do Alva, mas não corresponde às necessidades dos três concelhos em termos de ligação a Coimbra e à Covilhã. Tem a vantagem para Seia da ligação mais rápida a Viseu ser estabelecida na zona central desta grande região. Não podemos esquecer que a ligação rápida a Viseu significa também ligação a Nelas / Linha da Beira Alta, a todo o Litoral – Norte do país, bem como à A24 e zona da Galiza, na nossa vizinha Espanha.
O cenário B melhoraria as acessibilidades do concelho de Oliveira do Hospital e zona sul do concelho de Seia, mas seria menos favorável para Gouveia e zona norte do concelho de Seia, pois a ligação a Viseu e, por consequência, às zonas Norte e Litoral – Norte, bem como a ligação à Covilhã, estariam longe de ser as ideais. Uma estrada que se quer de fácil circulação, nesta encosta da serra, estará sempre condicionada à execução de muitas obras de engenharia (viadutos, pontes e túneis, ou não será nunca uma via rápida), cujo impacto ambiental será muito importante a ter em conta.
O cenário C parece ser o mais favorável aos três concelhos, vistos como um todo. Seia, por ser o centro de toda esta zona, poderá ser o concelho mais favorecido. Permitiria ligar o Norte e Litoral – Norte ao Interior Centro e Sul, ligar Coimbra à Covilhã e à Guarda / Espanha, com estas vias a cruzarem “frente “ à cidade de Seia, próximo à zona industrial da Abrunheira, com ligações fáceis aos pólos industriais de Oliveira do Hospital e Paranhos da Beira. Dos três, é o cenário que melhor serve Gouveia e Seia, sem comprometer minimamente os interesses de Oliveira do Hospital. Teríamos uma ligação à Cova da Beira muito mais rápida, sem estarmos dependentes das condições climatéricas que por vezes dificultam a circulação na zona da Serra da Estrela. O turista teria facilmente várias portas de acesso à Serra da Estrela, libertando-se o maciço central para aqueles que verdadeiramente o querem apreciar e fruir. Penso que a solução “túneis” seria também a que causaria menor impacto ambiental, atendendo às obras de engenharia necessárias para contornar as Serras do Açor ou da Estrela, o que acontece nos outros cenários. Há quem argumente que esta solução seria impraticável, pelos custos financeiros da obra, e só serviria para adiar a solução do problema. No entanto, quando as propostas foram feitas, o custo da construção do túnel não se pôs; todos os cenários seriam viáveis, mesmo financeiramente.
Os elementos solicitados à empresa que elaborou estes traçados, e que poderiam ajudar a emitir uma opinião mais fundamentada sobre a escolha dos melhores traçados, não foram ainda fornecidos. O prazo dado para as várias entidades regionais se pronunciarem há muito foi ultrapassado.
O Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações presidiu entretanto ao lançamento do concurso público para a construção do troço de 22 km do IC6 entre Catraia dos Poços e o nó de Tábua (cujos estudos se iniciaram há vários anos), que dará continuidade ao troço já construído até à Raiva. Referindo que não há ainda estudos para os restantes traçados, mantém a intenção de se tomarem decisões sobre eles já em Janeiro!!!
O Ministro das Obras Públicas Transportes e Comunicações anunciou também uma nova ligação de Celorico da Beira a Trancoso, com perfil de auto-estrada. Enquanto isto, os três concelhos a sul continuam a não falar a uma só voz.
Temo que daqui resulte, uma vez mais, um adiar da tomada de decisões, agora com o argumento de que os que deveriam ser mais beneficiados não se entendem. Penso que, mesmo com decisão, muitos anos de estudos se seguirão antes que surja algo de concreto que possa servir efectivamente este território.
Profeta da desgraça? Como desejo estar enganado!!!
João Alves
Um túnel com luz no fundo, mas não somos capazes de a entender...
Bem sei que o tema central desta edição é o tão badalado “túnel” da Serra, mas seria um absurdo se deixasse passar esta época sem a assinalar... enfim, fica o título!
O Natal já existia quando eu vim.
No princípio era haver mais bolos lá em casa, como nas festas de aniversário, e também presentes. E era muito bom verificar que cabiam na mesma casa, connosco, os avós, os tios e os primos. Havia um calor qualquer que faltava no resto do ano. Um aconchego a que não sabia dar nome.
Depois, juntou-se a tudo isto o facto de o Natal acontecer dentro dessa outra coisa maravilhosa que eram as férias. E ganhou ainda mais encanto.
Mas chegou a idade de querer saber a razão funda das coisas. Saí para a rua, onde as pessoas compravam e vendiam presentes envolvidos em papéis de muitas cores. Mas os que compravam e vendiam não souberam dizer-me o que desejava. Falaram-me de como tinham de correr muito nessa época do ano; falaram-me de números e das poupanças que tinham feito; do seu esforço e de como a vida não estava boa para dar prendas.
Nada sabiam acerca do Natal. Deixei-as nas suas absurdas correrias e continuei a procurar. Nas ruas, as luzes não passavam de técnica comercial e, no fundo, tudo estava muito escuro.
E fui ver as famílias, lembrando-me de como, em pequeno, o Natal me rodeava quando estava com os meus. E vi como as famílias se continuavam a juntar. E como continuavam a caber muitos numa casa pequenina. Mas ficavam sentados, passando o tempo em frente da televisão. Havia monossílabos e gritos. E compreendi que era apenas por hábito que se reuniam. Pareceu-me que tinham perdido o Natal, conservando somente a roupagem do Natal. Era como se houvesse o embrulho bonito do presente, mas sem presente dentro.
Achei as famílias disparatadas e saí de novo.
Foi só quando já não sabia onde procurar que tive a minha resposta. Os meus passos vagabundos levaram-me até onde se tinham juntado aqueles que sabiam de dores. Não recordo já se era hospital ou prisão. Ou uma barraca de janelas abertas ao frio da noite. Uma mãe tinha perdido um filho. Outra tinha um filho doente. Um homem jazia imóvel num leito e gemia não sei que doença. Outro tinha um sonho grande e umas mãos pequenas, e sofria de não ser capaz. Havia cegos e alguns que, vendo, desejavam ver de um outro modo.
Não sei contar todos os casos, mas posso dizer que vi uma oração nos lábios de cada um deles; nos olhos de cada um, uma lágrima e, simultaneamente, um brilho de esperança. Os que podiam tinham-se ajoelhado - era quase meia-noite - à beira de uns bonecos de presépio, entre os quais estava o daquela que havia de ser mãe.
Uma mãe ainda sem o filho nos braços... mas era quase meia-noite!
E compreendi: o Natal é só de quem há muito espera. De quem ainda não se encheu. É só de quem sonhou além das coisas e se vê ainda muito longe. É de quem tem chorado. De quem olha para dentro de si mesmo e sente medo. De quem não encontrou ainda o seu consolo.
O Natal existe apenas onde existe a falta. Nós, que temos tudo - que pensamos que temos tudo - sofremos da terrível pobreza de não sabermos sequer que somos pobres.
O Natal não é para nós. Ainda não somos capazes de o entender...
Um Santo Natal!
O Natal já existia quando eu vim.
No princípio era haver mais bolos lá em casa, como nas festas de aniversário, e também presentes. E era muito bom verificar que cabiam na mesma casa, connosco, os avós, os tios e os primos. Havia um calor qualquer que faltava no resto do ano. Um aconchego a que não sabia dar nome.
Depois, juntou-se a tudo isto o facto de o Natal acontecer dentro dessa outra coisa maravilhosa que eram as férias. E ganhou ainda mais encanto.
Mas chegou a idade de querer saber a razão funda das coisas. Saí para a rua, onde as pessoas compravam e vendiam presentes envolvidos em papéis de muitas cores. Mas os que compravam e vendiam não souberam dizer-me o que desejava. Falaram-me de como tinham de correr muito nessa época do ano; falaram-me de números e das poupanças que tinham feito; do seu esforço e de como a vida não estava boa para dar prendas.
Nada sabiam acerca do Natal. Deixei-as nas suas absurdas correrias e continuei a procurar. Nas ruas, as luzes não passavam de técnica comercial e, no fundo, tudo estava muito escuro.
E fui ver as famílias, lembrando-me de como, em pequeno, o Natal me rodeava quando estava com os meus. E vi como as famílias se continuavam a juntar. E como continuavam a caber muitos numa casa pequenina. Mas ficavam sentados, passando o tempo em frente da televisão. Havia monossílabos e gritos. E compreendi que era apenas por hábito que se reuniam. Pareceu-me que tinham perdido o Natal, conservando somente a roupagem do Natal. Era como se houvesse o embrulho bonito do presente, mas sem presente dentro.
Achei as famílias disparatadas e saí de novo.
Foi só quando já não sabia onde procurar que tive a minha resposta. Os meus passos vagabundos levaram-me até onde se tinham juntado aqueles que sabiam de dores. Não recordo já se era hospital ou prisão. Ou uma barraca de janelas abertas ao frio da noite. Uma mãe tinha perdido um filho. Outra tinha um filho doente. Um homem jazia imóvel num leito e gemia não sei que doença. Outro tinha um sonho grande e umas mãos pequenas, e sofria de não ser capaz. Havia cegos e alguns que, vendo, desejavam ver de um outro modo.
Não sei contar todos os casos, mas posso dizer que vi uma oração nos lábios de cada um deles; nos olhos de cada um, uma lágrima e, simultaneamente, um brilho de esperança. Os que podiam tinham-se ajoelhado - era quase meia-noite - à beira de uns bonecos de presépio, entre os quais estava o daquela que havia de ser mãe.
Uma mãe ainda sem o filho nos braços... mas era quase meia-noite!
E compreendi: o Natal é só de quem há muito espera. De quem ainda não se encheu. É só de quem sonhou além das coisas e se vê ainda muito longe. É de quem tem chorado. De quem olha para dentro de si mesmo e sente medo. De quem não encontrou ainda o seu consolo.
O Natal existe apenas onde existe a falta. Nós, que temos tudo - que pensamos que temos tudo - sofremos da terrível pobreza de não sabermos sequer que somos pobres.
O Natal não é para nós. Ainda não somos capazes de o entender...
Um Santo Natal!
Carlos Tavares
A ÁGUIA RÉGIA
Nesta gloriosa era que nos coube, e que ninguém como nós mereceu, dando de barato as gerações e gerações que nos precederam e que nada fizeram para a termos, à maior parte da maquinaria só falta falar, à menor da menor parte não resta outra alternativa que falar: mudaram-se os ventos, mudaram-se os tempos verbais, mestre Jean de La Fontaine. No tempo em que as avionetas falam, depois de um curso de piloto particular, e de longas negociações, acompanhadas de documentação muito pormenorizada e autenticada, o jeitoso e prometedor mecânico David Neves, saiu brevetado, com suma distinção e louvor, dando-se logo a conhecer a uma das ditas, de que não tirara os olhos desde o começo das aulas mas que nunca calhara na instrução, eu sou o David, deixa-me dizer já porque gosto tanto de ti: essa tua cor vermelha debruada a branco e esse nome, Águia Régia, Regina para os amigos?, és muito querida, facilita, para mim serás sempre a Águia, Águia Regina, o.k., e na torre também sabem?, óptimo, então podemos começar, estás preparada não estás?, ah, falta a autorização e o capacete, vou já tratar disso, entretanto podes por os motores a trabalhar. Disseram os do hangar trazendo-a para a pista: assim começam os grandes amores, ninguém vai conseguir travá-los. De facto, as horas livres, algumas forçadas, foram destinadas à consolidação das matérias e técnicas e habilidades aprendidas e treinadas e desenvolvidas, e a uma conversa interminável entre o homem e a aeronave, com juras de procedimentos adequados e de desafios a tentar, e um tratamento, em terra, digno de um apaixonado: sentes-te cansada? que te falta, minha querida? de que precisas?
- Temos o homem – concluíram os altos comandos. Para a experiência em voo nocturno entregamo-lo ao Antoine Saint-Exupéry, que o põe apto em duas ou três entregas aeropostais do correio do sul e o apresenta ao Principezinho, se não o levar antes à terra dos homens, capaz disso é ele, e nós fazemos de conta, nem lha apresentamos, prepare ele o rapaz.
Que melodia escutam os nossos ouvidos, meu amor? o Antoine? o Principezinho? que mais? Estamos prontos, não estamos? e tu não tens medo do escuro, pois não?
Não e estavam e tudo aconteceu conforme os planos de voo programados, entregas sem falhas com uma deriva pelo asteróide B612, onde o Principezinho guardava uma surpresa no cartapácio das suas porfiadas investigações geométricas, isto interessa-nos, Regina, e que era “se um triângulo tem três ângulos rectos, então é equilátero”. Antoine observou que devia haver ali qualquer confusão, também nós empanturrados de triangulações e de triângulos, mas aquela maravilhosa e impassível criatura continuou a falar-nos do seu espaço, e nós pusemo-nos a falar com os nossos botões e a tentar perceber antes de dar voz à lucubração e à controvérsia, aqui no hangar, com outra calma, devemos imaginar nesse caso, desculpem a interrupção, o alto comando tem uma missão para o David. Adeus Antoine, adeus Geometria, vou já.
Tudo muito bem explicado no painel da sala de controlo, ficámos a aguardar determinadas características da meteorologia, previstas para daí a uns dias, e que vieram a concretizar-se, bendito seja Deus, nem tudo são palpites, é agora, boa sorte, arrancamos por uma noite de breu, guiados pelo automático e mais uns periféricos montados a propósito e que deixaram a Regina um espanto, computador de bordo sempre alerta, vozes da Terra a perguntar por isto e por aquilo, a anunciar a próxima etapa e a próxima manobra e a próxima musiquinha para aquecer, também, são uns amores, a Regina agradece, assim vamos, olhos nos instrumentos e no cone de luz à frente do motor, ouvidos atentos ao ruído ambiente e às ordens e informações da base, sem qualquer ideia sobre o aspecto do espaço que atravessamos, não seja esse o problema. Mais apelativos alguns dos gráficos e letras e números e vozes no painel de bordo alertaram-nos para a proximidade do B612 e para a urgência de preparar as câmaras para fotografar e filmar e captar os triângulos do Principezinho que, contactado, acedeu de imediato ao projecto e vos vai enviar uma mensagem numa flor, não esqueça o alfabeto aéreo de saudação na aproximação mínima possível, concentração e atenção máxima, comandante, nós não podemos fazer tudo, aí inverter a marcha para Terra, entendido? Regina, vai começar a função, manda beijinhos quando eu começar os acenos e as piscadelas de olhos, adeus Principezinho, beijo a tua flor, as fotos estão um espanto, não tarda nada a base envia-tas, não sei se os reconhecerás espalmados no plano vertical, mas, para nós, dão uma ideia melhor do que seja um triângulo, desculpa o atrevimento.
Que ruído é este, Regina? os periféricos entraram em parafuso? ou é o motor? ou falhei a inversão? ou chocamos com algum meteorito? ou é poeira estelar a passear-se pela fuselagem? ou somos seguidos por algum espião?
- Calma, comandante, a inversão foi perfeita, está de regresso, vamos entrar na segunda etapa da missão.
Eu não acredito: da minha Regina, por este breu fora, que me parece menos breu, há algumas auroras ou engano-me?, soltam-se estrelas de cinco pontas gigantes vermelhas, anãs brancas, castanhas e vermelhas, anãs no interior das gigantes ou ao lado ou formando sucessões crescentes ou decrescentes ou alternadas, encimando espirais ou suspendendo-se de molas helicoidais, estrelas-cometas de caudas variadas, estrelas irregulares quadrangulares (que setas), hexagonais e heptagonais, estrelas de papel, estrelas do mar, esferas, bolos-rei, rosas dos ventos, planas ou tridimensionais, ramos de azevinho, laços, árvores calçadas com polainas e luvas compridas cravadas de diminutos diamantes luminosos delimitando avenidas ou largos, figuras de anjos e arcanjos e profanos, racionais ou irracionais, e, não pode ser, em cada triângulo espalmado do Principezinho o Menino, Nossa Senhora e São José, e tanto, tanto triângulo, pois, é Natal, 23 de Dezembro, não tenho olhos para o néon de tantas cores, nem consigo dar conta do espectáculo, à frente, à direita, à esquerda, atrás, com os raios laser a esgueirarem-se entre as formas e eles próprios a esboçarem desenhos e construções, acompanhando o som claro e quente das suaves e expressivas e conhecidas melodias natalícias, o que vejo não é deste mundo, engano claro, não é para ouvirem, e os instrumentos? e a Regina?
- Não se preocupe, comandante, estamos atentos, goze o seu trabalho.
Mas não é suposto existirem estrelas no céu a uma hora destas? Onde estão o Sol, a Alfa Centauro, a Polar, a Sírio, a Vega, a Aldebaran, a Castor, a Intrometida? e as Perseidas? e as nebulosas? e os cometas? e os planetas? e os satélites artificiais? Ora, David, diz Regina, claro que é suposto, e existem, mas quem tem tempo para olhar o céu à velocidade a que o mundo corre e nós com ele, e que tenha nem sempre se proporciona, hoje há cidades e lugares que não largam o capacete da poluição por questões de segurança, até eu, quantas vezes prefiro o Rui Veloso, então enclausurada no hangar. Do que se trata é de distribuir a mensagem ia a dizer rente à cabeça de cada um - pare para ver, olhe que lhe fica bem uma alma nova, boas festas: repara David, aí vão elas, em Times New Roman, Arial, Papyrus, Black Chancery, Signature, tens razão é inglês a mais e eles não merecem tanto, passemos ás letras góticas e admira a profusão de cores e a alegria desta breve expressão entre todos os objectos, deles se destacando e marcando as canções que se não cansam, a cintilar no novo céu concretizado por quem planeou a missão e a levou a cabo, olaré. É caso para lembrar o poeta António Ferreira (1528, Lisboa – 1569, Lisboa):
“e os que depois de nós vierem, vejam
quanto se trabalhou em seu proveito,
porque eles para os outros assim sejam”.
Não há dúvida, esta é uma noite de prodígios, a poesia não podia faltar, Regina, junto outra do teu poeta, se calhar não vem a propósito: “Floresça, fale, ouça-se e viva / A Portuguesa Língua (…) / Se até aqui esteve baixa, e sem louvor / Culpa é dos que mal a exercitáram (…)”. Noite que vai alta, se não erro é o azul envergonhado do crepúsculo, ajuda o cansaço dos meus olhos (e do meu corpo, há quanto partimos?) a perceber a fita curta e estreita à frente do teu nariz, lá em baixo, confere?, o.k., vamos aterrar.
- Alguém nos explica onde estamos?: N 40º 27´,20 ; W 007º 42´,41 ; altitude 1290 pés; temperatura exterior –2º Celsius.
- Está no aeródromo de Pinhanços, comandante. Parabéns, a missão foi um êxito, esteja atento aos noticiários e aos jornais. Estacione a Regina e proteja-a bem, tem o material na parte de trás do cockpit. David, aguarde: a Vóinha vai buscá-lo no honda jazz cool para a festa da consoada. Bom Natal. Esperamo-lo para a passagem do ano.
- Temos o homem – concluíram os altos comandos. Para a experiência em voo nocturno entregamo-lo ao Antoine Saint-Exupéry, que o põe apto em duas ou três entregas aeropostais do correio do sul e o apresenta ao Principezinho, se não o levar antes à terra dos homens, capaz disso é ele, e nós fazemos de conta, nem lha apresentamos, prepare ele o rapaz.
Que melodia escutam os nossos ouvidos, meu amor? o Antoine? o Principezinho? que mais? Estamos prontos, não estamos? e tu não tens medo do escuro, pois não?
Não e estavam e tudo aconteceu conforme os planos de voo programados, entregas sem falhas com uma deriva pelo asteróide B612, onde o Principezinho guardava uma surpresa no cartapácio das suas porfiadas investigações geométricas, isto interessa-nos, Regina, e que era “se um triângulo tem três ângulos rectos, então é equilátero”. Antoine observou que devia haver ali qualquer confusão, também nós empanturrados de triangulações e de triângulos, mas aquela maravilhosa e impassível criatura continuou a falar-nos do seu espaço, e nós pusemo-nos a falar com os nossos botões e a tentar perceber antes de dar voz à lucubração e à controvérsia, aqui no hangar, com outra calma, devemos imaginar nesse caso, desculpem a interrupção, o alto comando tem uma missão para o David. Adeus Antoine, adeus Geometria, vou já.
Tudo muito bem explicado no painel da sala de controlo, ficámos a aguardar determinadas características da meteorologia, previstas para daí a uns dias, e que vieram a concretizar-se, bendito seja Deus, nem tudo são palpites, é agora, boa sorte, arrancamos por uma noite de breu, guiados pelo automático e mais uns periféricos montados a propósito e que deixaram a Regina um espanto, computador de bordo sempre alerta, vozes da Terra a perguntar por isto e por aquilo, a anunciar a próxima etapa e a próxima manobra e a próxima musiquinha para aquecer, também, são uns amores, a Regina agradece, assim vamos, olhos nos instrumentos e no cone de luz à frente do motor, ouvidos atentos ao ruído ambiente e às ordens e informações da base, sem qualquer ideia sobre o aspecto do espaço que atravessamos, não seja esse o problema. Mais apelativos alguns dos gráficos e letras e números e vozes no painel de bordo alertaram-nos para a proximidade do B612 e para a urgência de preparar as câmaras para fotografar e filmar e captar os triângulos do Principezinho que, contactado, acedeu de imediato ao projecto e vos vai enviar uma mensagem numa flor, não esqueça o alfabeto aéreo de saudação na aproximação mínima possível, concentração e atenção máxima, comandante, nós não podemos fazer tudo, aí inverter a marcha para Terra, entendido? Regina, vai começar a função, manda beijinhos quando eu começar os acenos e as piscadelas de olhos, adeus Principezinho, beijo a tua flor, as fotos estão um espanto, não tarda nada a base envia-tas, não sei se os reconhecerás espalmados no plano vertical, mas, para nós, dão uma ideia melhor do que seja um triângulo, desculpa o atrevimento.
Que ruído é este, Regina? os periféricos entraram em parafuso? ou é o motor? ou falhei a inversão? ou chocamos com algum meteorito? ou é poeira estelar a passear-se pela fuselagem? ou somos seguidos por algum espião?
- Calma, comandante, a inversão foi perfeita, está de regresso, vamos entrar na segunda etapa da missão.
Eu não acredito: da minha Regina, por este breu fora, que me parece menos breu, há algumas auroras ou engano-me?, soltam-se estrelas de cinco pontas gigantes vermelhas, anãs brancas, castanhas e vermelhas, anãs no interior das gigantes ou ao lado ou formando sucessões crescentes ou decrescentes ou alternadas, encimando espirais ou suspendendo-se de molas helicoidais, estrelas-cometas de caudas variadas, estrelas irregulares quadrangulares (que setas), hexagonais e heptagonais, estrelas de papel, estrelas do mar, esferas, bolos-rei, rosas dos ventos, planas ou tridimensionais, ramos de azevinho, laços, árvores calçadas com polainas e luvas compridas cravadas de diminutos diamantes luminosos delimitando avenidas ou largos, figuras de anjos e arcanjos e profanos, racionais ou irracionais, e, não pode ser, em cada triângulo espalmado do Principezinho o Menino, Nossa Senhora e São José, e tanto, tanto triângulo, pois, é Natal, 23 de Dezembro, não tenho olhos para o néon de tantas cores, nem consigo dar conta do espectáculo, à frente, à direita, à esquerda, atrás, com os raios laser a esgueirarem-se entre as formas e eles próprios a esboçarem desenhos e construções, acompanhando o som claro e quente das suaves e expressivas e conhecidas melodias natalícias, o que vejo não é deste mundo, engano claro, não é para ouvirem, e os instrumentos? e a Regina?
- Não se preocupe, comandante, estamos atentos, goze o seu trabalho.
Mas não é suposto existirem estrelas no céu a uma hora destas? Onde estão o Sol, a Alfa Centauro, a Polar, a Sírio, a Vega, a Aldebaran, a Castor, a Intrometida? e as Perseidas? e as nebulosas? e os cometas? e os planetas? e os satélites artificiais? Ora, David, diz Regina, claro que é suposto, e existem, mas quem tem tempo para olhar o céu à velocidade a que o mundo corre e nós com ele, e que tenha nem sempre se proporciona, hoje há cidades e lugares que não largam o capacete da poluição por questões de segurança, até eu, quantas vezes prefiro o Rui Veloso, então enclausurada no hangar. Do que se trata é de distribuir a mensagem ia a dizer rente à cabeça de cada um - pare para ver, olhe que lhe fica bem uma alma nova, boas festas: repara David, aí vão elas, em Times New Roman, Arial, Papyrus, Black Chancery, Signature, tens razão é inglês a mais e eles não merecem tanto, passemos ás letras góticas e admira a profusão de cores e a alegria desta breve expressão entre todos os objectos, deles se destacando e marcando as canções que se não cansam, a cintilar no novo céu concretizado por quem planeou a missão e a levou a cabo, olaré. É caso para lembrar o poeta António Ferreira (1528, Lisboa – 1569, Lisboa):
“e os que depois de nós vierem, vejam
quanto se trabalhou em seu proveito,
porque eles para os outros assim sejam”.
Não há dúvida, esta é uma noite de prodígios, a poesia não podia faltar, Regina, junto outra do teu poeta, se calhar não vem a propósito: “Floresça, fale, ouça-se e viva / A Portuguesa Língua (…) / Se até aqui esteve baixa, e sem louvor / Culpa é dos que mal a exercitáram (…)”. Noite que vai alta, se não erro é o azul envergonhado do crepúsculo, ajuda o cansaço dos meus olhos (e do meu corpo, há quanto partimos?) a perceber a fita curta e estreita à frente do teu nariz, lá em baixo, confere?, o.k., vamos aterrar.
- Alguém nos explica onde estamos?: N 40º 27´,20 ; W 007º 42´,41 ; altitude 1290 pés; temperatura exterior –2º Celsius.
- Está no aeródromo de Pinhanços, comandante. Parabéns, a missão foi um êxito, esteja atento aos noticiários e aos jornais. Estacione a Regina e proteja-a bem, tem o material na parte de trás do cockpit. David, aguarde: a Vóinha vai buscá-lo no honda jazz cool para a festa da consoada. Bom Natal. Esperamo-lo para a passagem do ano.
Luis Alves Martins
domingo, 9 de dezembro de 2007
Próximas publicações
20 de Dezembro.
Tema - "Acessibilidades na região da Serra da Estrela"
Data limite de entrega dos trabalhos - 15 Dezembro
e´mail: jornal-partilha@portugalmail.pt
Tema - "Acessibilidades na região da Serra da Estrela"
Data limite de entrega dos trabalhos - 15 Dezembro
e´mail: jornal-partilha@portugalmail.pt
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Artigos da edição do jornal em formato de papel, mês de Outubro 2007
O blogue do Jornal "A Partilha", sedeado na localidade de Tourais, concelho de Seia, Serra da Estrela, pretende ser um espaço de partilha de opiniões sobre os temas que vão sendo tratados no jornal em formato de papel. O Blogue aparece assim com várias finalidades, sendo uma das quais alargar o leque de leitores a todo o país, bem como, promover a opinião e comentários aos artigos, permitindo um feed-back entre os escritores e os leitores. O Blogue será actualizado a cada edição do jornal em formato de papel com periodicidade bimestral. Nesta edição de Outubro de 2007 o tema é "As Instituições Particulares de Solidariedade Social e o seu papel no desenvolvimento social e local".
A História das IPSS´s em Portugal (Instituições Particulares de Solidariedade Social)
Até à criação das misericórdias no final do século XV e desde os primórdios da nacionalidade, as necessidades da população portuguesa, em matéria de assistência, tinham dado origem a uma multiplicidade de iniciativas. Muitas delas eram de âmbito local, ligadas não apenas a ordens militares e religiosas (que tiveram um importante papel na reconquista e no repovoamento do território) como também aos municípios e às confrarias de mestres ou a simples particulares (mercadores ricos, etc.); outras, pelo contrário, deveram a seu nascimento à devoção de vários reis, rainhas e demais gente da nobreza e do alto clero. No final do século XV existiam quatro tipos de estabelecimentos assistenciais: Albergarias, Hospitais (como hospedarias para os pobres), Gafarias ou Leprosarias e Mercearias (obrigação religiosa de fazer o bem pela alma ou saúde de alguém). Apenas os hospitais, agora com uma função declaradamente de prestação de cuidado de saúde, subsistem hoje em dia. A partir do século XVII a solidariedade começa a desmarcar-se do sentido puramente religioso da caridade para se assumir como um dever social do Estado e da sociedade civil, “... no transcurso da evolução observada (1700-1830) o que ressalta é o triunfo gradual do modelo filantrópico sobre o velho paradigma da caridade piedosa, entendida, desde a longínqua Idade Média, como tesouro de salvação pessoal.” (Araújo, 1997, p. 449). A criação da Casa Pia nos finais do século XVIII pode ser considerada como uma referência para o lançamento da assistência social com origem pública/estatal em Portugal. A Lei 2120 de 19 de Julho de 1963 instituiu as Instituições Particulares de Assistência, que eram consideradas Pessoas Colectivas de Utilidade Pública Administrativa (PCUPA) e assumiam as formas de Associações de Beneficentes, Institutos de Assistência (religiosos ou não) ou Institutos de Utilidade Local (Fundações). Foi com a Constituição de 1976 (artigo nº 63) que surgiu pela primeira vez o termo IPSS.
As principais formas jurídicas de IPSS são:
- As Santas Casas da Misericórdia ou Irmandades da Misericórdia foram fundadas em 15 de Agosto de 1498, aquando da criação na Sé de Lisboa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por iniciativa da Rainha D. Leonor e de Frei Miguel Contreiras. Em 1500 já existiam 23 SCM. As restantes tiveram origem maioritariamente na Igreja e nas Confrarias, “As confrarias portuguesas, com origem no século XV, constituem uma organização social da iniciativa religiosa que no passado desempenhou um papel importante no controlo social, ao organizar os homens bons da terra numa organização que pugnava pela prática de actos de misericórdia para com os pobres: A Misericórdia. Estabelecia-se assim uma relação entre a propriedade e o capital com a equidade e a justiça social. As confrarias eram organizações da comunidade tuteladas pela Igreja, dado que a única filosofia conhecida de apoio aos carenciados era a da Igreja” (Barros, et al, 2000). Com a expansão marítima dos descobrimentos portugueses as Misericórdias espalharam-se um pouco por todo o mundo. Encontram-se hoje em quase todos os concelhos de Portugal, no Brasil, na Índia, em Espanha, em Macau e em África. Estão hoje inscritas na DGSSS, 332 SCM, todas constituídas sob ordem jurídica canónica, que se encontram reunidas na União das Misericórdias Portuguesas (392 associadas) criada em 1974 e confederadas com as Misericórdias internacionais na Confederação Internacional das Misericórdias desde 1979. As SCM têm uma tradição multissecular e têm por via do seu peso institucional já consolidado, um crescimento mais reduzido em número de instituições. Esta diminuição do número de instituições (usualmente uma SCM por concelho) não é sinónimo de imobilismo, pelo contrário as SCM têm crescido em actividades e no melhoramento do seu vasto património imobiliário. 85% das SCM têm, pelo menos uma valência para idosos. Por exemplo a Misericórdia do Porto, considerada "a maior do Mundo", possui 80 milhões de activos imobiliários dentro e fora do País, em 1993 empregava mais de 800 pessoas e movimentava anualmente mais de 25 milhões de euros. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não foi incluída neste estudo por ainda não estar totalmente clarificada a sua forma jurídica. A SMCL foi criada como associação privada, sendo como todas as SCM vindouras apoiada inicialmente pela Igreja. Em 1919 passou para a tutela do Estado, tendo em 1991 assumido o estatuto de PCUPA. Presentemente a SCM de Lisboa é uma entidade privada, nomeadamente na gestão do pessoal e na gestão financeira, embora tenha características de instituição pública nos planos estrutural, orgânico e administrativo (SCML, 1998).
- Os Centros Sociais Paroquiais, os Centros Paroquiais de Bem-Estar Social ou outras congregações religiosas, fortemente ligadas à Igreja Católica, são as segundas IPSS mais antigas, denominadas antes de 1983 por Institutos de Assistência. A Igreja é a instituição que em Portugal mais atenção prestou e de um modo mais persistente à acção social. A Igreja sempre foi um agente determinante e uma força fundamental na gestão das pessoas e dos meios relacionados com a solidariedade social. Para esta a acção social “... trata-se de um agir eficaz em ordem à edificação do Reino de Deus, contribuindo para a melhor ordenação da sociedade humana, a partir de comunidade cristã,...” (CEP, 1997, p. 4). De notar que 25% dos Centros Sociais Paroquiais são presididos por um sacerdote.
- As Associações de Socorros Mútuos ou Mutualidades, que tiveram um papel bastante importante no início da intervenção social, mas que entretanto e fruto da deslocação para outras entidades do seu principal fim, o fundo, vieram a perder contínuamente importância. O melhor exemplo actual de uma Mutualidade em funcionamento é o Montepio-Geral (Valério, 1994).
- As Associações de Solidariedade Social de iniciativa privada ou associativa surgiram depois de 1974 como resultado do impulso de participação na democratização da sociedade portuguesa. São estas novas IPSS que estão melhor preparadas e mais vocacionadas para lidar com os novos problemas sociais (toxicodependência, exclusão social) enquanto as IPSS mais antigas estão bastante ligadas às respostas tradicionais (Pré-escolar, Centros de Dia, Lares). “... há em Portugal um défice de mobilização das principais forças impulsionadoras do movimento das instituições particulares para os novos domínios da luta contra a exclusão.” (Pedroso, 1995). Isto deve-se não só à inércia institucional das IPSS, principalmente das mais antigas, como ao Estado que tem privilegiado a instalação das valências tradicionais. As principais respostas sociais onde as IPSS trabalham, além das respostas vocacionadas para idosos (Centro de Convívio, Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário, Lares, etc.), são na área da infância e juventude (Creche, Estabelecimento de Ensino Pré-escolar, Centro de Actividades de Tempos Livres, Lares de jovens, etc.); na área da deficiência (Lares e Centros de Actividades Ocupacionais); na área da família (Centro Comunitário, etc.); na área da toxicodependência; dos sem-abrigo e outras (Cuidados Médicos, Ensino, etc.). Actualmente são 53 as respostas sociais reconhecidas pela DGSS e praticadas pelas IPSS que assistem diariamente 438.556 pessoas e onde trabalham perto de 20.000 voluntários e 45.000 empregados.
J, Luís, A historia das IPSS,
As principais formas jurídicas de IPSS são:
- As Santas Casas da Misericórdia ou Irmandades da Misericórdia foram fundadas em 15 de Agosto de 1498, aquando da criação na Sé de Lisboa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por iniciativa da Rainha D. Leonor e de Frei Miguel Contreiras. Em 1500 já existiam 23 SCM. As restantes tiveram origem maioritariamente na Igreja e nas Confrarias, “As confrarias portuguesas, com origem no século XV, constituem uma organização social da iniciativa religiosa que no passado desempenhou um papel importante no controlo social, ao organizar os homens bons da terra numa organização que pugnava pela prática de actos de misericórdia para com os pobres: A Misericórdia. Estabelecia-se assim uma relação entre a propriedade e o capital com a equidade e a justiça social. As confrarias eram organizações da comunidade tuteladas pela Igreja, dado que a única filosofia conhecida de apoio aos carenciados era a da Igreja” (Barros, et al, 2000). Com a expansão marítima dos descobrimentos portugueses as Misericórdias espalharam-se um pouco por todo o mundo. Encontram-se hoje em quase todos os concelhos de Portugal, no Brasil, na Índia, em Espanha, em Macau e em África. Estão hoje inscritas na DGSSS, 332 SCM, todas constituídas sob ordem jurídica canónica, que se encontram reunidas na União das Misericórdias Portuguesas (392 associadas) criada em 1974 e confederadas com as Misericórdias internacionais na Confederação Internacional das Misericórdias desde 1979. As SCM têm uma tradição multissecular e têm por via do seu peso institucional já consolidado, um crescimento mais reduzido em número de instituições. Esta diminuição do número de instituições (usualmente uma SCM por concelho) não é sinónimo de imobilismo, pelo contrário as SCM têm crescido em actividades e no melhoramento do seu vasto património imobiliário. 85% das SCM têm, pelo menos uma valência para idosos. Por exemplo a Misericórdia do Porto, considerada "a maior do Mundo", possui 80 milhões de activos imobiliários dentro e fora do País, em 1993 empregava mais de 800 pessoas e movimentava anualmente mais de 25 milhões de euros. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não foi incluída neste estudo por ainda não estar totalmente clarificada a sua forma jurídica. A SMCL foi criada como associação privada, sendo como todas as SCM vindouras apoiada inicialmente pela Igreja. Em 1919 passou para a tutela do Estado, tendo em 1991 assumido o estatuto de PCUPA. Presentemente a SCM de Lisboa é uma entidade privada, nomeadamente na gestão do pessoal e na gestão financeira, embora tenha características de instituição pública nos planos estrutural, orgânico e administrativo (SCML, 1998).
- Os Centros Sociais Paroquiais, os Centros Paroquiais de Bem-Estar Social ou outras congregações religiosas, fortemente ligadas à Igreja Católica, são as segundas IPSS mais antigas, denominadas antes de 1983 por Institutos de Assistência. A Igreja é a instituição que em Portugal mais atenção prestou e de um modo mais persistente à acção social. A Igreja sempre foi um agente determinante e uma força fundamental na gestão das pessoas e dos meios relacionados com a solidariedade social. Para esta a acção social “... trata-se de um agir eficaz em ordem à edificação do Reino de Deus, contribuindo para a melhor ordenação da sociedade humana, a partir de comunidade cristã,...” (CEP, 1997, p. 4). De notar que 25% dos Centros Sociais Paroquiais são presididos por um sacerdote.
- As Associações de Socorros Mútuos ou Mutualidades, que tiveram um papel bastante importante no início da intervenção social, mas que entretanto e fruto da deslocação para outras entidades do seu principal fim, o fundo, vieram a perder contínuamente importância. O melhor exemplo actual de uma Mutualidade em funcionamento é o Montepio-Geral (Valério, 1994).
- As Associações de Solidariedade Social de iniciativa privada ou associativa surgiram depois de 1974 como resultado do impulso de participação na democratização da sociedade portuguesa. São estas novas IPSS que estão melhor preparadas e mais vocacionadas para lidar com os novos problemas sociais (toxicodependência, exclusão social) enquanto as IPSS mais antigas estão bastante ligadas às respostas tradicionais (Pré-escolar, Centros de Dia, Lares). “... há em Portugal um défice de mobilização das principais forças impulsionadoras do movimento das instituições particulares para os novos domínios da luta contra a exclusão.” (Pedroso, 1995). Isto deve-se não só à inércia institucional das IPSS, principalmente das mais antigas, como ao Estado que tem privilegiado a instalação das valências tradicionais. As principais respostas sociais onde as IPSS trabalham, além das respostas vocacionadas para idosos (Centro de Convívio, Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário, Lares, etc.), são na área da infância e juventude (Creche, Estabelecimento de Ensino Pré-escolar, Centro de Actividades de Tempos Livres, Lares de jovens, etc.); na área da deficiência (Lares e Centros de Actividades Ocupacionais); na área da família (Centro Comunitário, etc.); na área da toxicodependência; dos sem-abrigo e outras (Cuidados Médicos, Ensino, etc.). Actualmente são 53 as respostas sociais reconhecidas pela DGSS e praticadas pelas IPSS que assistem diariamente 438.556 pessoas e onde trabalham perto de 20.000 voluntários e 45.000 empregados.
J, Luís, A historia das IPSS,
Dissertação de Mestrado, ISCTE
Autarquia e IPSS’s de braço dado rumo ao Desenvolvimento Social Sustentável do Concelho de Seia
Olhando a nossa sociedade, é consensual que a pobreza e a exclusão social são fenómenos multidimensionais e transversais às diversas esferas da vida quotidiana. Apesar de existirem problemas conjunturais, não podemos, deixar de reconhecer a importância da igualdade de oportunidades para as camadas populacionais mais desfavorecidas, com vista à criação ou melhoria dos seus projectos de vida. Torna-se premente capacitar os indivíduos para uma tomada de consciência de si próprios e do meio que os envolve, tornando-os activos e colaboradores no processo de mudança e de resolução dos seus problemas, mobilizando-os para o seu envolvimento em processos de inclusão. E aqui a Câmara Municipal tem desempenhado um papel importante, não só através da Divisão da Acção Social e Saúde mas através da relação próxima entre todas as Divisões, da implementação da Rede Social, como também através das equipas que têm uma intervenção mais próxima do terreno, como o Projecto de Luta Contra a Pobreza (2002-2005) a Comissão de Protecção Crianças e Jovens e o Gabinete de Apoio à Família, lançando assim novas formas de Solidariedade, novos Envolvimento e Novas Atitudes. Dando continuidade a esta preocupação pelo desenvolvimento social, a Câmara Municipal lançou, já durante este mandato, um conjunto de medidas, particularmente no apoio à 3ª idade, famílias numerosas e à juventude. Destas destacam-se a promoção das condições de bem-estar e da melhoria da qualidade de vida, a promoção da cidadania e de estilos de vida saudáveis, o apoio permanente a famílias com especificidades, as acções de promoção pessoal, familiar e profissional, a animação com jovens, a realização de campos e colónias de férias, a visita a locais de interesse cultural, a organização de programas e ateliers dirigidos para a população sénior. Este conjunto de medidas e outras que brevemente serão apresentadas são de extrema importância para o desenvolvimento global do indivíduo, e todas elas têm sempre em linha de conta a parceria profícua e o envolvimento incondicional das Instituições Particulares de Solidariedade Social do nosso concelho. E porque na nossa vida, o que interessa são os resultados visíveis, encontra-se já em curso outra importante medida para a melhoria das condições de habitação e salubridade de um conjunto de pessoas e famílias, que comprovadamente, não têm possibilidades de o fazer sozinhas, estas obras permitirão a recuperação de 11 habitações, que representam um investimento do executivo, na ordem dos 150.000,00€. Outra novidade, prende-se com o lançamento do Gabinete de Habitação e Reabilitação Urbana por parte da Câmara Municipal de Seia. Este Gabinete, em colaboração muito próxima com as Juntas de Freguesia e IPSS do nosso Concelho, vai proceder à execução de um conjunto de acções, que visam dar um grande impulso à política da habitação na sua vertente social, prevenindo a dependência, evitando acidentes domésticos mas fomentando a parceria entre IPSS e utentes, a par de projectos relacionadas com a reabilitação do património edificado. Perante esta realidade, verificamos que o executivo municipal, dá uma enorme importância ao papel das Instituições Particulares de Solidariedade Social, especialmente no cuidado, no empenho, na melhoria da qualidade de vida e no contexto de apoio aos idosos e crianças, sedimentando desta forma, o seu contributo para o desenvolvimento local e social. Verificamos que a Câmara Municipal tem um rumo traçado caminhando para o desenvolvimento sustentável, onde os resultados começam a ser visíveis e a possibilitar exteriorizar as capacidades e probidade do nosso Concelho.
Ana Margarida Jerónimo
Ana Margarida Jerónimo
Quantas IPSS´s têm o certificado de qualidade?
Sendo o tema desta edição do jornal a “importância das IPSS´s no desenvolvimento social e local” parece-me pertinente centrar o meu artigo na necessidade que as Instituições devem ter em implementar um sistema de qualidade e certificação, uma vez que produzem serviços para públicos externos. A qualificação do chamado 3º Sector pode, e deve, constituir-se como um instrumento de apoio na passagem de uma lógica de assistência para uma lógica de prevenção e de promoção do desenvolvimento social. As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS´s) não resumem as suas práticas e serviços ao apoio alimentar a idosos ou crianças. Este é dos muitos serviços que realizam mas não o único e talvez não o mais importante. Na sua acção prática, está em causa também a própria complexidade dos fenómenos de pobreza e de exclusão social e a dificuldade em dar respostas eficazes a esses problemas. Neste contexto de grande complexidade dos fenómenos sociais é essencial que, ao abordar as questões da Qualidade, tenhamos sempre presente a importância das representações sociais sobre estes fenómenos por parte dos actores envolvidos na intervenção social e a importância da participação dos utilizadores. Uma participação que não deve estar restrita á lógica de “satisfação dos clientes”, mas que deve incluir igualmente a dimensão do envolvimento deles próprios. Neste mesmo sentido importa sublinhar a necessidade dos processos de qualificação e certificação das IPSS´s.
E o que é isto?
Na realidade, aproximadamente cerca de 70% das respostas sociais resultam de acordos entre o Estado e as diferentes Instituições deste Sector (mais de 13.000 respostas sociais), e, a médio prazo, com o envelhecimento das populações (por exemplo) a sustentação do sistema de protecção social em Portugal necessitará de um ainda mais forte 3º sector. Sendo verdade que este é um sector com enormes virtudes, é igualmente verdade que persistem grandes dificuldades que não podem ser ignoradas. Uma resposta mais eficaz e mais eficiente aos problemas da pobreza e exclusão social passa, necessariamente, pela aposta na capacitação dos seus agentes e das suas respostas sociais, assim como pelo desenvolvimento de uma maior capacidade de auto-sustentabilidade e de planeamento estratégico. Neste contexto, sendo essencial o desenvolvimento de processos de qualificação destas organizações e das suas valências, é igualmente necessária uma reflexão sobre o caminho a adoptar pelas IPSS´s para obterem níveis de Excelência nas respostas sociais que desenvolvem. Um primeiro aspecto a sublinhar é a importância dos modelos e as normas de Qualidade aplicados serem efectivamente adaptados às características e às especificidades do sector, permitindo assim reforçar as suas virtudes e evitando o risco de uma descaracterização destas organizações e da sua cultura específica. A solidariedade, a flexibilidade, a proximidade e alguma informalidade são características deste sector que não devem ser postas em causa pela introdução de modelos baseados noutras formas de estar e realidades. Pelo contrário, a utilização de modelos adaptados ao 3.º Sector que permitam a consciencialização da identidade própria destas organizações pode assumir uma importância estratégica na afirmação da especificidade deste sector. Neste mesmo sentido importa sublinhar a necessidade destes processos de qualificação serem liderados e apoiados por profissionais com competências não só na área da gestão e da qualidade, mas também com um profundo conhecimento e experiência sobre estas organizações, as suas fragilidades e potencialidades, os seus actores, as suas respostas e os fenómenos a que pretendem responder. Agentes que, tendo por base o conhecimento deste sector, o respeito pela identidade destas organizações e a valorização de toda a experiência e capital já existente sejam capazes de fomentar mudanças (que muitas vezes passam por mudanças de mentalidade) tendo em vista a qualificação destas organizações e promoção de respostas mais eficazes, particularmente no que ao combate à pobreza e exclusão diz respeito. Se é essencial a definição de uma Política de Qualidade para o 3º Sector, é igualmente necessária a sua participação activa na definição dos objectivos, estratégias, modelos e instrumentos de Qualidade. A qualificação deste Sector deve ser compreendida como um investimento. Este é um investimento das organizações, tendo em vista o seu desenvolvimento organizacional e a promoção de respostas sociais mais capazes, mas é também um investimento do Estado Português. Com um 3º sector frágil qualquer política de inclusão e coesão social terá sempre uma fraca viabilidade. A este nível, é assim de toda a relevância e importância estratégica o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN - 2007-2013) pois constitui uma relevante oportunidade de proporcionar as necessárias condições para o reforço deste inevitável processo de qualificação sustentável que as IPSS´s necessitam até para salvaguardar o seu futuro próximo. Por tudo isto, a certificação passa sem dúvida por uma opção estratégica de desenvolvimento das organizações, no sentido de quererem evoluir, melhorar e ganhar mercados. Nesse sentido algumas empresas já certificadas apontam diversas vantagens, quer a nível interno quer a nível externo, podendo referir-se:
- Melhoria do prestígio e da imagem;
E o que é isto?
Na realidade, aproximadamente cerca de 70% das respostas sociais resultam de acordos entre o Estado e as diferentes Instituições deste Sector (mais de 13.000 respostas sociais), e, a médio prazo, com o envelhecimento das populações (por exemplo) a sustentação do sistema de protecção social em Portugal necessitará de um ainda mais forte 3º sector. Sendo verdade que este é um sector com enormes virtudes, é igualmente verdade que persistem grandes dificuldades que não podem ser ignoradas. Uma resposta mais eficaz e mais eficiente aos problemas da pobreza e exclusão social passa, necessariamente, pela aposta na capacitação dos seus agentes e das suas respostas sociais, assim como pelo desenvolvimento de uma maior capacidade de auto-sustentabilidade e de planeamento estratégico. Neste contexto, sendo essencial o desenvolvimento de processos de qualificação destas organizações e das suas valências, é igualmente necessária uma reflexão sobre o caminho a adoptar pelas IPSS´s para obterem níveis de Excelência nas respostas sociais que desenvolvem. Um primeiro aspecto a sublinhar é a importância dos modelos e as normas de Qualidade aplicados serem efectivamente adaptados às características e às especificidades do sector, permitindo assim reforçar as suas virtudes e evitando o risco de uma descaracterização destas organizações e da sua cultura específica. A solidariedade, a flexibilidade, a proximidade e alguma informalidade são características deste sector que não devem ser postas em causa pela introdução de modelos baseados noutras formas de estar e realidades. Pelo contrário, a utilização de modelos adaptados ao 3.º Sector que permitam a consciencialização da identidade própria destas organizações pode assumir uma importância estratégica na afirmação da especificidade deste sector. Neste mesmo sentido importa sublinhar a necessidade destes processos de qualificação serem liderados e apoiados por profissionais com competências não só na área da gestão e da qualidade, mas também com um profundo conhecimento e experiência sobre estas organizações, as suas fragilidades e potencialidades, os seus actores, as suas respostas e os fenómenos a que pretendem responder. Agentes que, tendo por base o conhecimento deste sector, o respeito pela identidade destas organizações e a valorização de toda a experiência e capital já existente sejam capazes de fomentar mudanças (que muitas vezes passam por mudanças de mentalidade) tendo em vista a qualificação destas organizações e promoção de respostas mais eficazes, particularmente no que ao combate à pobreza e exclusão diz respeito. Se é essencial a definição de uma Política de Qualidade para o 3º Sector, é igualmente necessária a sua participação activa na definição dos objectivos, estratégias, modelos e instrumentos de Qualidade. A qualificação deste Sector deve ser compreendida como um investimento. Este é um investimento das organizações, tendo em vista o seu desenvolvimento organizacional e a promoção de respostas sociais mais capazes, mas é também um investimento do Estado Português. Com um 3º sector frágil qualquer política de inclusão e coesão social terá sempre uma fraca viabilidade. A este nível, é assim de toda a relevância e importância estratégica o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN - 2007-2013) pois constitui uma relevante oportunidade de proporcionar as necessárias condições para o reforço deste inevitável processo de qualificação sustentável que as IPSS´s necessitam até para salvaguardar o seu futuro próximo. Por tudo isto, a certificação passa sem dúvida por uma opção estratégica de desenvolvimento das organizações, no sentido de quererem evoluir, melhorar e ganhar mercados. Nesse sentido algumas empresas já certificadas apontam diversas vantagens, quer a nível interno quer a nível externo, podendo referir-se:
- Melhoria do prestígio e da imagem;
- Aumento da competitividade e entrada em novos mercados;
- Aumento da confiança dos trabalhadores, clientes e administração;- Cultura da melhoria contínua;
- Redução de custos;
- Prevenção e minimização de aspectos, perigos e acidentes.
Aqui no nosso Distrito da Guarda deram-me boas referencias de uma empresa que procede à implementação de sistemas de qualificação e certificação das IPSS´s. Caso o leitor após a leitura deste artigo esteja interessado em que a sua Instituição seja certificada e assim cumpra com os requisitos necessários e legais de actuação, pode obter o contacto dessa mesma empresa enviando-me um e´mail para: luís.silva.75@gmail.com, pois terei todo o gosto em lho enviar.
Luís Silva
Luís Silva
Instituições Particulares de Solidariedade Social
Depois das Exposocial – Mostra de Serviços de Apoio Social do Concelho de Seia (2003, 2005, 2007), ficou perfeitamente claro “o importante papel que estas entidades representam na economia local e regional, referenciando até o enorme relevo que possuem como empregadores”, segundo o “Porta da Estrela” de 12-02-2007. Ainda há dias li num dos jornais de uma dessas instituições ou equiparada que era o maior empregador da freguesia. Não sei se esse é também o caso da Associação de Tourais, mas se não for, é, com certeza, um dos maiores, e numa altura em que por estas bandas só se fala (ou falava) em desemprego é bom ler notícias dessas, por termos a certeza que são verdadeiras e por garantirem alguma estabilidade do emprego, embora a este propósito não seja demais repetir que cada um de nós deve contar com umas seis ou mais mudanças de emprego ao longo da vida activa, e que a grande arma para enfrentar a mudança chama-se formação contínua, por muitas e doutorais opiniões em sentido contrário que se ouçam em cada esquina, ou por muito descrédito que mereçam algumas das acções que se processaram ou vão processando, quer em termos de conteúdos, quer em termos de formadores, quer em efeitos imediatos na manutenção ou na promoção da carreira. Pelo que lemos nas entrevistas dadas pelos utentes aos jornais das instituições, ou pelo que ouvimos nas conversas de ocasião ou na visita, de um modo geral os serviços oferecidos são tidos como bons e o desempenho dos funcionários, seja qual for a categoria, se não é bom, anda por lá, o que é, de novo, uma boa notícia, e sabe-se, ou imagina-se, que são tarefas delicadas e muito exigentes, desde as aparentemente simples, como entregar uma refeição ou passar um pano de pó por uma mesa, às mais complexas, como as referentes à animação dos idosos ou aos cuidados a prestar. Donde, a necessidade da tal formação ao longo da vida. O “eu já sei tudo” ou “já me ensinaram tudo” foi chão que deu uvas, se alguma vez as deu. Afinal, uma das constantes da vida é exactamente a mudança: é o que temos certo todos os dias, e durante cada uma das 24 horas de cada dia. Não é só a morte que está certa. Este papel importantíssimo que as instituições desempenham ou podem desempenhar, não advém do facto de serem particulares, também as há públicas, mostrando estudos a nível europeu que o particular está longe do público (lá chegará, se chegar), em qualquer sector de actividade, embora apareçam diariamente uns arautos da verdade absoluta a proclamar a excelência do particular e a insuficiência do público, o costume. Neste caso, a tão apregoada sociedade civil, que somos todos nós, e não os outros, tem pesadas responsabilidades (é ela que não sabe, ou não quer saber, o que há-de fazer dos infantes e dos pais), pelo que é suposto que avance com propostas para a criação de instituições adequadas: um povo – e não só o Governo desse povo – que não cuida das suas crianças e dos seus idosos tem o destino marcado, tudo isto é fado, e se os oitocentos e tal anos de vida do povo aguentam muita coisa não disfarçam atrasos nas habilitações para o trabalho nem deficiências no tratamento da infância e da velhice. A propósito, viu-se num recente estudo, apesar de um 19º lugar em 29 países, que ficamos em primeiro lugar em cada um dos 3 itens relativos à infância, o que é uma excelente notícia. Mais: é uma esperança fundada de que o mesmo nível pode ser atingido relativamente à terceira idade. Exactamente com os institutos, as instituições, as fundações, as associações, que sei eu mais, particulares (acrescentem-se as públicas), por todo o território espalhadas. A insistência no magnífico trabalho que tem sido feito não deve esconder dificuldades nem deficiências. Há muitas questões, e pertinentes, que todos os dias se põem, desde a falta momentânea de condições até aos encerramentos. Reconhecer, corrigir, adaptar, respeitar a legislação, são objectivos a prosseguir para atingir esse primeiro lugar. Por outro lado, a obsessão com “os nossos velhinhos” (esta é uma expressão deprimente, que admite talvez uma excepção quando se diz “está a ficar velhinho”), que tantas vezes enfeita o discurso dos responsáveis, não deve criar falsas ilusões acerca das condições de acesso às instituições e da utilização das mesmas. Como sénior bem aviado gostaria de ver invertido o destaque que se põe na instituição a favor do papel fundamental que os seniores, idosos, terceira idade, segundo a terminologia oficial, podem desempenhar como elementos de uma equipa capaz de fazer coisas rentáveis para o bem de todos, logo, da instituição, e para seu gozo pessoal, de acordo com as “forças” e a disposição. Não desperdiçar talentos, nem capacidades, nem habilidades, e, sobretudo, não desperdiçar a experiência de uma vida, é uma regra de ouro. (Vendo-a pelo preço por que a comprei). Paradoxalmente a terceira idade, se não a quarta, é a idade do futuro, lestes bem, ó jovens: não tarda assim tanto que os seniores sejam o dobro dos juniores, neste continente que nos coube, sem qualquer interesse em manter as taxas da natalidade. Não, não é só a questão económica, todos o sabemos, por isso a invocamos.
Luís Alves Martins
Luís Alves Martins
A sabedoria dos Anciãos
Nas mais diversas culturas, sobretudo nas mais simples, os anciãos são vistos como pontos de sabedoria e conhecimento, aquele conhecimento que se adquire com a universidade da vida e que se sedimenta com o passar dos anos. Esse conhecimento, essa importância social dos idosos foi sendo desvalorizada e perdida com o evoluir das sociedades, quanto mais complicadas se tornaram, mais esquecidos foram os idosos e os seus ensinamentos, o que constitui um erro crasso que se deve corrigir. As IPSS que apoiam os idosos são fundamentais nessa valorização, quer ela seja feita em contexto de lar, quer ela seja feita em contexto de apoio ao domicílio. A valorização do idoso e dos seus conhecimentos, o respeito pelo seu ritmo, o apoio na saúde, na alimentação, na higiene sem perder o respeito pela dignidade individual de cada um deles e do seu percurso de vida, é a melhor forma de lhes proporcionar qualidade de vida, na parte final da mesma. As IPSS que assim actuam dão um contributo inexcedível para a sua felicidade e para uma qualidade de vida que não teriam sem a sua intervenção. Contudo, não podemos dorar a pílula, pois todos sabemos bem que algumas IPSS não se preocupam com isso, apenas visam, apesar de abertamente não o admitirem, o lucro fácil, sem grandes preocupações com o investimento na qualidade de vida. Quanto mais respeito se demonstra para um ancião, mais respeito se tem pela história da nossa sociedade, pelo que o caminho das IPSS deverá ser esse, de valorização dos idosos através da programação de actividades dos mesmos, da ligação à família e comunidade, para que esta possa beber essa sabedoria, aprendendo com quem já viveu e pode contar. Às IPSS que assim trabalham aqui dou os meus parabéns, pois só assim elas darão um verdadeiro contributo no apoio aos idosos, respeitando a sua individualidade e proporcionando a eles e aos seus familiares um sentimento de bem-estar por saberem que os idosos se sentem bem em sê-lo, não se sentindo abandonados nem desrespeitados. Por outro lado as IPSS contribuem significativamente para o desenvolvimento local com a criação de emprego. Em muitas das freguesias do nosso concelho são o principal ou único empregador, permitindo assim a fixação de pessoas e valorização profissional das pessoas do concelho, ou da própria freguesia. Aliado a este trabalho está o Instituto de Emprego que forma pessoas capazes de trabalhar nos lares ou no apoio ao domicílio, adaptando aos cargos pessoas que tinham outras formações ou experiências de vida, fazendo assim uma readaptação profissional. Desta forma, as IPSS de apoio aos idosos preenchem um duplo papel de, por um lado, dar felicidade aos idosos e, por outro, de dar emprego a quem ainda está em idade para tal, contribuindo nestas duas vertentes para o desenvolvimento local.
Nuno Almeida
Nuno Almeida
Será que as Associações são necessárias?
Fala-se tanto de Associações, será que são necessárias ou surgem sem qualquer utilidade. O dicionário diz que Associação é a acção ou efeito de associar; entidade que congrega pessoas que têm interesses comuns; acção de aproximar. Permitam-me que acrescente que além de ter acção de aproximar, também têm a acção de ajudar, de contribuir para o bem-estar dos nossos utentes, tanto crianças como idosos, como aos seus familiares. Este é o lema de uma Associação como a nossa, que consiste em colmatar algumas carências/dificuldades de muitos dos nossos utentes. Para além de Associações de Beneficência existem associações que a sua vertente tem mais a ver com o desenvolvimento cultural e desportivo da sua terra ou da sua região. São estas que muitas vezes fazem vibrar uma população ou representando os hábitos culturais desta, ou dependendo e divulgando em eventos o nome da sua terra. Infelizmente e, em virtude da desertificação das aldeias, muitas tendem a desaparecer empobrecendo desse modo a comunidade onde estavam inseridas em primeiro lugar, mas também a cultura do nosso país num âmbito mais alargado. Falar de Associações temos que falar do Associativismo existente nas populações e dão origem á criação de inúmeras associações com os diferentes fins e com diferentes finalidades, sempre com o intuito de divulgação de um determinado tema quer seja religioso, desportivo, cultural ou gastronómico. Existem ainda Associações profissionais que defendem os direitos de uma profissão. As Associações assentam numa vertente voluntarista dos seus dirigentes, isto é, todas as direcções são voluntárias, impedidas por lei de serem remunerados, apenas podem receber desta “dores de cabeça”, “desavenças” com terceiros e por vezes problemas familiares fruto do tempo dado ás Associações em detrimento do tempo passado com a família. Por tudo isto dá-me prazer dizer que ainda bem que as Associações existem para colmatar a necessidade de cuidarem dos nossos entes mais queridos que por algum motivo nós não podemos cuidar, mas também para divulgar o desporto, as Associações desportivas, organizando eventos desportivos, convívios etc., para todos possam colaborar e esquecer o stress diário em que vivemos.
Dá-me prazer dizer: eu faço parte de algumas ASSOCIAÇÕES.
Ilídio Ramos
Dá-me prazer dizer: eu faço parte de algumas ASSOCIAÇÕES.
Ilídio Ramos
O envelhecimento demográfico põe à prova a solidariedade entre gerações
Depois de uma época em que o alarme era a explosão demográfica, agora no Ocidente passou para primeiro plano o problema do envelhecimento demográfico. O prolongamento da esperança de vida e a queda a pique da natalidade vão dar origem a crescentes desequilíbrios económicos e sociais, que ameaçam a solidariedade entre as gerações.
Porque razão o envelhecimento demográfico é realmente um problema afectado por um carácter negativo?
Em si mesmo, o aumento da esperança de vida, concorrente com o número da população idosa, não está afectado por nenhuma carácter negativo, pelo contrário, o carácter é indubitavelmente positivo. E, mesmo assim, não terá a velhice, enquanto tal, um indelével sinal positivo? A questão aparece já discutida nas primeiras páginas daquele que é talvez o mais célebre de todos os escritos de Platão, A República.
Uma atitude pessoal
Sócrates encontra muito envelhecido Céfalo, pai de Polemarco, que o convida a sua casa. Céfalo confessa a Sócrates que, conforme foi envelhecendo, o seu apreço pelos prazeres sensoriais esgotaram-se, enquanto que por sua vez se tornou maior o interesse pelos prazeres da conversa. Não é esse o caso, reconhece Céfalo, da maioria dos seus amigos já entrados na velhice, os quais se lamentam pela perda dos prazeres sexuais. Contrariamente à opinião dessa maioria, Céfalo acompanha o sentimento de quem vê na extinção da violência passional da juventude uma libertação da pior tirania e, juntamente a isso, um poderoso guardião do sossego e da paz de ânimo. Mas a maioria dos anciãos que te ouvem, observa Sócrates, acreditam que aguentas bem a velhice porque és dono de uma grande fortuna, já que, segundo se diz, as riquezas trazem grandes consolos. A resposta de Céfalo é que quem opina desse modo tem razão, mas não tanto como se imagina, pois as riquezas não suavizam o humor dos homens insensatos. Tomadas no seu conjunto, as ideias que Platão põe na boca de Céfalo acerca da velhice, podem resumir-se em três pontos: 1) a situação económica do ancião é necessária, mas não suficiente, para determinar a respectiva atitude perante a velhice; 2) em resolução, essa atitude é essencialmente íntima, pessoal; 3) o tratamento platónico da velhice não inclui a dimensão social, e mais em concreto a intergeracional da vida dos idosos. A carência da dimensão social, e especialmente intergeracional, no tratamento que Platão faz da velhice não ocorre na Antiguidade Clássica, nem na Idade Média, pelo menos no âmbito da praxis política. Assim o provam instiuições tais como o Conselho de Anciãos, ou a Gerusía de Esparta e o Senado Romano, com atribuições de grande responsabilidade e longo alcance. Tudo isto interessa aqui pelo carácter intergeracional do serviço que uma pessoas de relevo e de idade avançada prestam institucionalmente às outras que na sua maioria pertencem a outras gerações.
Colaborar com a experiência de vida
Também no ámbito da teoría política, não só na praxis, pode assinalarse o carácter intergeracional e o sinal positivo da concepção aristotélica da prudência. Esta virtude, segundo a entende o filósofo, inclui entre as suas partes integrantes a experiência vital conseguida com o decorrer dos anos, aproveitada não só pelo próprio mas também por quem dele a recebe e que mais necessitado está dela por ser de menor idade. As razões que alguns psicólogos contemporâneos invocam para atribuir um sinal negativo à velhice referem-se à velhice em geral e, enquanto tal, não incluem a forma de a viver que uns padecem e da qual outros estão livres. Estes psicólogos atribuem a todos os anciãos, pelo puro e simples facto de serem velhos, uma situação psíquica fundamentalmente dominada pelo egoísmo e pelo sentimento de uma irreprimível solidão. A arbitrariedade desta maneira de conceber o carácter geral dos anciãos é inteiramente equiparada ao abuso de quem pensa que o egoísmo e a irreprimível solidão constituem características fundamentais da psicologia juvenil. Nestes termos podemos recordar o título de uma das mais conhecidas novelas de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar. Dificilmente podemos esquecer o repentino calafrio que sentimos ao ler a frase inicial: “Ele era um velho que pescava sozinho no seu barco”. Mas depois o relato que assim começa, longe de ser uma crónica de angústias e sofrimentos de um velho e solitário escador, é a história da lealdade e a amistosa ajuda que o ancião recebe de um generoso rapaz e que depois lhe corresponde na mesma nobre medida.
Contribuem ou apenas recebem?
Ora bem, se a razão do carácter negativo do envelhecimento demográfico não é a própria velhice em si, nem tão pouco está no aumento dos anciãos, será necessário perguntar se a razão se centra no facto de os anciãos contribuirem pouco para o bem estar social que, em definitivo, são apenas beneficiários daquilo que os outros membros da sociedade fazem por eles. Encontramo-nos então com a questão intergeracional: As pessoas de idade contribuem para a melhoria dos níveis de vida ou apenas beneficiam dessa melhoria?
Vejamos quatro respostas a esta mesma pregunta, das quais três estão em forma de parábola, mas a sua interpretação é bem simples.
1. No seu romance “The fixed period” (1982), Anthony Throlopp conta que numa ilha imaginária os habitantes que chegam aos 67 anos de idade são obrigatoriamente internados num local, denominado Necrópolis, onde devem dedicar-se a meditações pré-eutanásicas, convencendo-se de que a sua morte é justificada e exigida pela sua própria dignidade, já que se tornaram numa carga para os outros moradores da ilha. Uma vez decorrido o prazo fixo de um ano, procede-se à anestesia com clorofórmio e à incineração imediata. Como quem diz: “morto o cão, acabou-se a raiva”. Sem prova de nenhum género Throlopp admite, por um lado, a onerosidade de todos anciãos para os que não o são e, por outro, a incapacidade de todos os que não o são para prestar algum serviço aos que o são. À gratituidade destas suposições deve-se acrescentar o erro de ter por indigna a situação de quem não está em condição de poder ser útil aos outros. Certamente, não se encontram nesta situação todos os homens que cumpriram os 67 anos de idade, mas os que lá chegaram não perderam a dignidade específica da pessoa humana, um valor essencialmente intrínseco a todos os homens e que, como tal, deve ser respeitado em qualquer circunstância.
Regra de ouro
2. Simone de Beauvoir relata em Vieillesse (1974) uma eloquente parábola centrada numa família de camponeses onde o avô é obrigado a comer sózinho diariamente, num estábulo. Um bom dia o neto está a martelar nuns troços de madeira e, ao vê-lo nesta cupação, o seu pai pergunta: Que estás a fazer? O rapaz responde: Estou a construir-te um estábulo para que possas comer nele quando fores tão velhinho como o avô. Desde logo o relato tem tanto de edificante como de intencionada é a resposta do neto no seu claro paralelismo com o comportamento do pai. A história termina com o regresso do avô à mesa da família. A “lição”, ainda que não intencionada, foi efectivamente aproveitada. Podemos interpretá-la no sentido em que, ainda que o avô chegue de facto a ser uma carga, a família deve manter-se unida a ele, pois ele mesmo não é de facto uma carga. E quem o abandona merece o mesmo tratamento “quando forem tão velhos como o avô”. Vingança ou simples justiça? Em qualquer caso, Simone de Beauvoir não o decide: e, apesar do ateísmo pessoal da autora de Vieillesse, a moral da sua história é uma aplicação da “regra de ouro” do catolicismo – “Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o também vós aos outros” (Mt. 7, 12).
Ajudar e ser ajudados
3. Harry Moody, no seu Ethics in an Ageing Society (1992), introduz uma fábula que fala de um pássaro fêmea que voa em busca de comida, levando nas costas uma cria sua, a quem lhe pergunta: “Quando fores tão velha e débil como eu, me levarás sobre as tuas costas, como eu te carrego agora?” A cria responde: “Oh, não, mãe! Levarei a minha própria cria, como agora tu o fazes”. O ensinamento é que correspondamos à generosidade dos nossos predecessores sendo generosos com os nossos sucessores. Ora bem, é verdade que correspondemos assim ao que fizeram os nossos pais por nós? Moody deixa em aberto esta questão. Mas é algo bem claro que a resposta do passarinho é injusta, porque não pode ser justo que A não preste a sua ajuda a B que a necessita e que ajudou A quando este, antes, a necessitou. Certamente, a carga pode ser na ocasião maior: por um lado, respeito dos pais e, por outro, respeito dos sucessores; sendo assim é certo que se responda objectivamente a uma exigência dobrada da justiça.
4. Norman Daniels nos seus mais variados escritos defende que a justiça na distribuição dos recursos sociais exige um tratamento desigual nas distintas etapas etárias do homem. “Dado que as nossas necessidades mudam nas distintas etapas da nossa vida, queremos instituições que respondam a estas mudanças”. Este princípio deve respeitar-se dentro do ideal de uma sociedade em que todos sejam ajudados e todos ajudem, segundo as possibilidades respectivas em cada situação.
Em suma, Daniels procura manter um justo equilíbrio entre as cargas, defendendo que a pessoa tenha acesso a distintos recursos através das distintas etapas da sua existência.
O que os anciãos podem dar
Esquematizo esta temática através dos seguintes pontos:
a) Só existe uma classe de pessoas humanas que não têm deveres, apenas direitos. A esta classe pertence todo o nascituro e toda a criança de tenra idade e, no referente aos deveres em matéria económica, todo o homem que não tenha a capacidade de os cumprir (por carecer dos meios materiais necessários ou por algum impedimento ou perturbação de índole psíquica).
b) Os membros dos outros sectores sociais têm mútuos direitos e deveres, além das obrigações que moralmente os afecta em relação aos que pertencem ao grupo que só tem direitos.
c) Considerando o problema desde a perspectiva da situação dos anciãos, devem-se reconhecer direitos e deveres. Os primeiros centram-se no direito a um digno nível de vida material e espiritual. Logicamente, isto levanta alguns problemas económicos cuja solução, atendendo às concretas circunstãncias, é competência dos economistas e governantes. Este direito tem a sua razão mais essencial na dignidade da pessoa humana, sem mencionar o facto do que fizeram em beneficío da sua prole o que lhes dá um direito acrescentado ao já citado e baseado na dignidade pessoal de todo o homem. Os deveres correspondentes à pessoal dignidade humana dos anciãos centram-se na ajuda que estes podem prestar, segundo as suas capacidades e recursos, em três sentidos: o da prudência política, o da actividade laboral habitualmente exercida durante a sua vida e o da família. A ajuda que os anciãos podem prestar no âmbito da prudência política é exclusivamente para quem tenha desempenhado cargos públicos nos diversos níveis: incluindo o municipal ou local. No âmbito da actividade laboral os anciãos podem, com a sua experiência, ser úteis a quem exerce essa mesma actividade. As inovações das técnicas não tornam, por princípio, inúteis os ensinamentos dos anciãos, em especial dos mais inteligentes e avisados. Dentro das empresas, se os melhores serviços das pessoas de idade avançada são os ligados a cargos de direcção e estratégia geral da produção e do comércio, então deve-se reconhecer que, desde logo, não podem ser muitas estas pessoas. Mas, pelo contrário, é abundante o número de anciãos que podem prestar uma valiosa ajuda dentro do âmbito da família. Neste espaço os serviços dos avós está a ser, com efeito, aproveitado e reconhecido com crescente frequência, e até com agradecimento, por um considerável número de pais. A expressão “serviço de qualidade”, utilizada para se referir ao que os avós fazem na sua própria família ao tomarem conta dos seus netos, é um testemunho fidedigno disto mesmo. Na nossa sociedade os avós prestam serviços especiais às crianças, o que permite à geração dos pais ser economicamente produtiva. Quando a doença ou outra tragédia deixa os pais incapacitados para cuidar dos filhos, os avós (sobretudo, as avós) frequentemente prestam o cuidado e o apoio multigeracional essencial. É importante assinalar que em todas estas situações as pessoas de idade quase sempre estão dispostas a prestar ajuda, e sacrificam-se pelo bem da geração mais jovem.
Carlos Tavares
Porque razão o envelhecimento demográfico é realmente um problema afectado por um carácter negativo?
Em si mesmo, o aumento da esperança de vida, concorrente com o número da população idosa, não está afectado por nenhuma carácter negativo, pelo contrário, o carácter é indubitavelmente positivo. E, mesmo assim, não terá a velhice, enquanto tal, um indelével sinal positivo? A questão aparece já discutida nas primeiras páginas daquele que é talvez o mais célebre de todos os escritos de Platão, A República.
Uma atitude pessoal
Sócrates encontra muito envelhecido Céfalo, pai de Polemarco, que o convida a sua casa. Céfalo confessa a Sócrates que, conforme foi envelhecendo, o seu apreço pelos prazeres sensoriais esgotaram-se, enquanto que por sua vez se tornou maior o interesse pelos prazeres da conversa. Não é esse o caso, reconhece Céfalo, da maioria dos seus amigos já entrados na velhice, os quais se lamentam pela perda dos prazeres sexuais. Contrariamente à opinião dessa maioria, Céfalo acompanha o sentimento de quem vê na extinção da violência passional da juventude uma libertação da pior tirania e, juntamente a isso, um poderoso guardião do sossego e da paz de ânimo. Mas a maioria dos anciãos que te ouvem, observa Sócrates, acreditam que aguentas bem a velhice porque és dono de uma grande fortuna, já que, segundo se diz, as riquezas trazem grandes consolos. A resposta de Céfalo é que quem opina desse modo tem razão, mas não tanto como se imagina, pois as riquezas não suavizam o humor dos homens insensatos. Tomadas no seu conjunto, as ideias que Platão põe na boca de Céfalo acerca da velhice, podem resumir-se em três pontos: 1) a situação económica do ancião é necessária, mas não suficiente, para determinar a respectiva atitude perante a velhice; 2) em resolução, essa atitude é essencialmente íntima, pessoal; 3) o tratamento platónico da velhice não inclui a dimensão social, e mais em concreto a intergeracional da vida dos idosos. A carência da dimensão social, e especialmente intergeracional, no tratamento que Platão faz da velhice não ocorre na Antiguidade Clássica, nem na Idade Média, pelo menos no âmbito da praxis política. Assim o provam instiuições tais como o Conselho de Anciãos, ou a Gerusía de Esparta e o Senado Romano, com atribuições de grande responsabilidade e longo alcance. Tudo isto interessa aqui pelo carácter intergeracional do serviço que uma pessoas de relevo e de idade avançada prestam institucionalmente às outras que na sua maioria pertencem a outras gerações.
Colaborar com a experiência de vida
Também no ámbito da teoría política, não só na praxis, pode assinalarse o carácter intergeracional e o sinal positivo da concepção aristotélica da prudência. Esta virtude, segundo a entende o filósofo, inclui entre as suas partes integrantes a experiência vital conseguida com o decorrer dos anos, aproveitada não só pelo próprio mas também por quem dele a recebe e que mais necessitado está dela por ser de menor idade. As razões que alguns psicólogos contemporâneos invocam para atribuir um sinal negativo à velhice referem-se à velhice em geral e, enquanto tal, não incluem a forma de a viver que uns padecem e da qual outros estão livres. Estes psicólogos atribuem a todos os anciãos, pelo puro e simples facto de serem velhos, uma situação psíquica fundamentalmente dominada pelo egoísmo e pelo sentimento de uma irreprimível solidão. A arbitrariedade desta maneira de conceber o carácter geral dos anciãos é inteiramente equiparada ao abuso de quem pensa que o egoísmo e a irreprimível solidão constituem características fundamentais da psicologia juvenil. Nestes termos podemos recordar o título de uma das mais conhecidas novelas de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar. Dificilmente podemos esquecer o repentino calafrio que sentimos ao ler a frase inicial: “Ele era um velho que pescava sozinho no seu barco”. Mas depois o relato que assim começa, longe de ser uma crónica de angústias e sofrimentos de um velho e solitário escador, é a história da lealdade e a amistosa ajuda que o ancião recebe de um generoso rapaz e que depois lhe corresponde na mesma nobre medida.
Contribuem ou apenas recebem?
Ora bem, se a razão do carácter negativo do envelhecimento demográfico não é a própria velhice em si, nem tão pouco está no aumento dos anciãos, será necessário perguntar se a razão se centra no facto de os anciãos contribuirem pouco para o bem estar social que, em definitivo, são apenas beneficiários daquilo que os outros membros da sociedade fazem por eles. Encontramo-nos então com a questão intergeracional: As pessoas de idade contribuem para a melhoria dos níveis de vida ou apenas beneficiam dessa melhoria?
Vejamos quatro respostas a esta mesma pregunta, das quais três estão em forma de parábola, mas a sua interpretação é bem simples.
1. No seu romance “The fixed period” (1982), Anthony Throlopp conta que numa ilha imaginária os habitantes que chegam aos 67 anos de idade são obrigatoriamente internados num local, denominado Necrópolis, onde devem dedicar-se a meditações pré-eutanásicas, convencendo-se de que a sua morte é justificada e exigida pela sua própria dignidade, já que se tornaram numa carga para os outros moradores da ilha. Uma vez decorrido o prazo fixo de um ano, procede-se à anestesia com clorofórmio e à incineração imediata. Como quem diz: “morto o cão, acabou-se a raiva”. Sem prova de nenhum género Throlopp admite, por um lado, a onerosidade de todos anciãos para os que não o são e, por outro, a incapacidade de todos os que não o são para prestar algum serviço aos que o são. À gratituidade destas suposições deve-se acrescentar o erro de ter por indigna a situação de quem não está em condição de poder ser útil aos outros. Certamente, não se encontram nesta situação todos os homens que cumpriram os 67 anos de idade, mas os que lá chegaram não perderam a dignidade específica da pessoa humana, um valor essencialmente intrínseco a todos os homens e que, como tal, deve ser respeitado em qualquer circunstância.
Regra de ouro
2. Simone de Beauvoir relata em Vieillesse (1974) uma eloquente parábola centrada numa família de camponeses onde o avô é obrigado a comer sózinho diariamente, num estábulo. Um bom dia o neto está a martelar nuns troços de madeira e, ao vê-lo nesta cupação, o seu pai pergunta: Que estás a fazer? O rapaz responde: Estou a construir-te um estábulo para que possas comer nele quando fores tão velhinho como o avô. Desde logo o relato tem tanto de edificante como de intencionada é a resposta do neto no seu claro paralelismo com o comportamento do pai. A história termina com o regresso do avô à mesa da família. A “lição”, ainda que não intencionada, foi efectivamente aproveitada. Podemos interpretá-la no sentido em que, ainda que o avô chegue de facto a ser uma carga, a família deve manter-se unida a ele, pois ele mesmo não é de facto uma carga. E quem o abandona merece o mesmo tratamento “quando forem tão velhos como o avô”. Vingança ou simples justiça? Em qualquer caso, Simone de Beauvoir não o decide: e, apesar do ateísmo pessoal da autora de Vieillesse, a moral da sua história é uma aplicação da “regra de ouro” do catolicismo – “Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o também vós aos outros” (Mt. 7, 12).
Ajudar e ser ajudados
3. Harry Moody, no seu Ethics in an Ageing Society (1992), introduz uma fábula que fala de um pássaro fêmea que voa em busca de comida, levando nas costas uma cria sua, a quem lhe pergunta: “Quando fores tão velha e débil como eu, me levarás sobre as tuas costas, como eu te carrego agora?” A cria responde: “Oh, não, mãe! Levarei a minha própria cria, como agora tu o fazes”. O ensinamento é que correspondamos à generosidade dos nossos predecessores sendo generosos com os nossos sucessores. Ora bem, é verdade que correspondemos assim ao que fizeram os nossos pais por nós? Moody deixa em aberto esta questão. Mas é algo bem claro que a resposta do passarinho é injusta, porque não pode ser justo que A não preste a sua ajuda a B que a necessita e que ajudou A quando este, antes, a necessitou. Certamente, a carga pode ser na ocasião maior: por um lado, respeito dos pais e, por outro, respeito dos sucessores; sendo assim é certo que se responda objectivamente a uma exigência dobrada da justiça.
4. Norman Daniels nos seus mais variados escritos defende que a justiça na distribuição dos recursos sociais exige um tratamento desigual nas distintas etapas etárias do homem. “Dado que as nossas necessidades mudam nas distintas etapas da nossa vida, queremos instituições que respondam a estas mudanças”. Este princípio deve respeitar-se dentro do ideal de uma sociedade em que todos sejam ajudados e todos ajudem, segundo as possibilidades respectivas em cada situação.
Em suma, Daniels procura manter um justo equilíbrio entre as cargas, defendendo que a pessoa tenha acesso a distintos recursos através das distintas etapas da sua existência.
O que os anciãos podem dar
Esquematizo esta temática através dos seguintes pontos:
a) Só existe uma classe de pessoas humanas que não têm deveres, apenas direitos. A esta classe pertence todo o nascituro e toda a criança de tenra idade e, no referente aos deveres em matéria económica, todo o homem que não tenha a capacidade de os cumprir (por carecer dos meios materiais necessários ou por algum impedimento ou perturbação de índole psíquica).
b) Os membros dos outros sectores sociais têm mútuos direitos e deveres, além das obrigações que moralmente os afecta em relação aos que pertencem ao grupo que só tem direitos.
c) Considerando o problema desde a perspectiva da situação dos anciãos, devem-se reconhecer direitos e deveres. Os primeiros centram-se no direito a um digno nível de vida material e espiritual. Logicamente, isto levanta alguns problemas económicos cuja solução, atendendo às concretas circunstãncias, é competência dos economistas e governantes. Este direito tem a sua razão mais essencial na dignidade da pessoa humana, sem mencionar o facto do que fizeram em beneficío da sua prole o que lhes dá um direito acrescentado ao já citado e baseado na dignidade pessoal de todo o homem. Os deveres correspondentes à pessoal dignidade humana dos anciãos centram-se na ajuda que estes podem prestar, segundo as suas capacidades e recursos, em três sentidos: o da prudência política, o da actividade laboral habitualmente exercida durante a sua vida e o da família. A ajuda que os anciãos podem prestar no âmbito da prudência política é exclusivamente para quem tenha desempenhado cargos públicos nos diversos níveis: incluindo o municipal ou local. No âmbito da actividade laboral os anciãos podem, com a sua experiência, ser úteis a quem exerce essa mesma actividade. As inovações das técnicas não tornam, por princípio, inúteis os ensinamentos dos anciãos, em especial dos mais inteligentes e avisados. Dentro das empresas, se os melhores serviços das pessoas de idade avançada são os ligados a cargos de direcção e estratégia geral da produção e do comércio, então deve-se reconhecer que, desde logo, não podem ser muitas estas pessoas. Mas, pelo contrário, é abundante o número de anciãos que podem prestar uma valiosa ajuda dentro do âmbito da família. Neste espaço os serviços dos avós está a ser, com efeito, aproveitado e reconhecido com crescente frequência, e até com agradecimento, por um considerável número de pais. A expressão “serviço de qualidade”, utilizada para se referir ao que os avós fazem na sua própria família ao tomarem conta dos seus netos, é um testemunho fidedigno disto mesmo. Na nossa sociedade os avós prestam serviços especiais às crianças, o que permite à geração dos pais ser economicamente produtiva. Quando a doença ou outra tragédia deixa os pais incapacitados para cuidar dos filhos, os avós (sobretudo, as avós) frequentemente prestam o cuidado e o apoio multigeracional essencial. É importante assinalar que em todas estas situações as pessoas de idade quase sempre estão dispostas a prestar ajuda, e sacrificam-se pelo bem da geração mais jovem.
Carlos Tavares
A importância das IPSS´s
A importância das Instituições Particulares de Solidariedade Social no contexto de apoio aos idosos e o seu contributo para o desenvolvimento local.
São das poucas, senão as únicas instituições, que neste momento apoiam e cuidam dos idosos, em todos os aspectos. A nossa sociedade tem cada vez mais, a tendência para abandonar, desprezar os idosos. Dão muito trabalho, são chatos, estão quase sempre doentes, não produzem. Em resumo, são um fardo. Mas noutras eles são, sinónimo de sabedoria. Foram eles que nos criaram que nos deram educação, que nos ensinaram a andar, falar, comer, foram colegas de brincadeiras, ajudaram nos primeiros trabalhos de casa. Que nos repreenderam quando necessário, que nos apoiaram nos bons de maus momentos, etc. Devíamos, saber, retribuir toda a ajuda que nos deram, quando ainda não conseguíamos caminhar, sozinhos. Agora, que eles necessitam porque, estão cansados para, caminhar, não temos tempo para lhe dar a mão. E quando digo não temos tempo, tem a ver com a sociedade de hoje. Que não nos deixa tempo, para os idosos. Mas temos que fazer o impossível para conseguirmos tempo, para alguém que já nos deu muito. As IPSS, são muita vez o único porto de abrigo, dos nossos idosos. Porque são onde cuidam deles com a dignidade que merecem, tanto no apoio domiciliário como com aqueles que estão “internados”. Fazendo todo o tipo de actividades, para os manter ocupados. Agora não se pense que as instituições sozinhas conseguem fazer tudo. Porque eles, idosos, continuam a fazer parte de uma família, que enquanto pode apoiou. Agora ele necessita, nem que seja uma vez por semana, que alguém da família que ajudou a crescer, lhe dê algum “apoio”.
E este “apoio”, pode traduzir-se apenas num sorriso.
E a propósito de sorriso, a frase com que termino, que alguém um dia escreveu, é a prova que não custa nada.
“Para franzir a testa, você utiliza 32 músculos. Para sorrir, somente 28. Sorria, nem que seja por economia.”
Nuno Pinheiro
São das poucas, senão as únicas instituições, que neste momento apoiam e cuidam dos idosos, em todos os aspectos. A nossa sociedade tem cada vez mais, a tendência para abandonar, desprezar os idosos. Dão muito trabalho, são chatos, estão quase sempre doentes, não produzem. Em resumo, são um fardo. Mas noutras eles são, sinónimo de sabedoria. Foram eles que nos criaram que nos deram educação, que nos ensinaram a andar, falar, comer, foram colegas de brincadeiras, ajudaram nos primeiros trabalhos de casa. Que nos repreenderam quando necessário, que nos apoiaram nos bons de maus momentos, etc. Devíamos, saber, retribuir toda a ajuda que nos deram, quando ainda não conseguíamos caminhar, sozinhos. Agora, que eles necessitam porque, estão cansados para, caminhar, não temos tempo para lhe dar a mão. E quando digo não temos tempo, tem a ver com a sociedade de hoje. Que não nos deixa tempo, para os idosos. Mas temos que fazer o impossível para conseguirmos tempo, para alguém que já nos deu muito. As IPSS, são muita vez o único porto de abrigo, dos nossos idosos. Porque são onde cuidam deles com a dignidade que merecem, tanto no apoio domiciliário como com aqueles que estão “internados”. Fazendo todo o tipo de actividades, para os manter ocupados. Agora não se pense que as instituições sozinhas conseguem fazer tudo. Porque eles, idosos, continuam a fazer parte de uma família, que enquanto pode apoiou. Agora ele necessita, nem que seja uma vez por semana, que alguém da família que ajudou a crescer, lhe dê algum “apoio”.
E este “apoio”, pode traduzir-se apenas num sorriso.
E a propósito de sorriso, a frase com que termino, que alguém um dia escreveu, é a prova que não custa nada.
“Para franzir a testa, você utiliza 32 músculos. Para sorrir, somente 28. Sorria, nem que seja por economia.”
Nuno Pinheiro
Educação e família
1 – EDUCAR:
a) Atendendo ao seu significado (radical latino) EDUCAR é ajudar alguém a orientar a sua vida, segundo os ditames de uma cultura, e a partir de elementos constitutivos do ser humano. O animal tem o seu instinto e por ele se guia, mas o homem herda uma natureza com algumas qualidades boas, mas outras menos boas, o que torna a EDUCAÇÃO indispensável.
b) Ninguém pode orientar correctamente a sua vida sem o esforço da educação. Aliás, a nossa educação nunca está completamente realizada. Exige não só o auxilio de agentes externos como o esforço pessoal e responsável. Alguém diz, justamente, que nós somos “filhos de nós mesmos”! É, portanto, uma tarefa de toda a nossa vida.
c) Como a educação abrange o ser humano completo, não podemos reduzi-la à mera INSTRUÇÃO. O melhor e mais abrangente TERMO para se classificar Educação é a palavra FORMAÇÃO.
d) Se é indispensável alimentar a inteligência do educando, não é menos importante formar a sua vontade, o seu carácter, o seu coração.
e) Os Educadores, nomeadamente os Pais, não estão dispensados da sua própria formação, ao longo da vida, não só a título pessoal, como a título do TESTEMUNHO, hoje cada vez mais indispensável (“Palavras leva-as o vento!”).
2 – RELAÇÕES DA FORMAÇÃO:
a) Se na formação ou educação temos de olhar para o homem TODO (corpo e alma), não podemos também esquecer o relacionamento dos educandos com o meio que os rodeia:
1.º - DEUS, de Quem vimos, com Quem vivemos e para Quem caminhamos, Esquecer esta relação é uma TRAIÇÃO gravíssima a Deus, a quem Daremos contas, como ao educando, que Deus criou para a felicidade eterna na condição da nossa colaboração, consciente e activa.
2.º - A IGREJA, a Quem apresentámos as crianças para o Baptismo, a Quem pedimos as aceitasse para a 1.ª Comunhão, Profissão de Fé ou o Crisma, também sobrenaturais oferecidos pela mesma Igreja, particularmente a Reconciliação e a Eucaristia são indispensáveis numa normal Formação.
3.º - A Paróquia, comunidade viva, onde ninguém deve ficar isolado ou desinteressado. A Família Paroquial, particularmente na Catequese de adultos, jovens e crianças, só pode ser uma realidade de promoção dos grandes valores do ser humano, se a sua presença entrar nas preocupações sérias e constantes dos educadores cristãos.
4.º - A Escola, onde os jovens passam a maior parte do seu dia, deve colaborar e sentir o interesse dos educadores, particularmente dos Pais.
Pe. Coelho
a) Atendendo ao seu significado (radical latino) EDUCAR é ajudar alguém a orientar a sua vida, segundo os ditames de uma cultura, e a partir de elementos constitutivos do ser humano. O animal tem o seu instinto e por ele se guia, mas o homem herda uma natureza com algumas qualidades boas, mas outras menos boas, o que torna a EDUCAÇÃO indispensável.
b) Ninguém pode orientar correctamente a sua vida sem o esforço da educação. Aliás, a nossa educação nunca está completamente realizada. Exige não só o auxilio de agentes externos como o esforço pessoal e responsável. Alguém diz, justamente, que nós somos “filhos de nós mesmos”! É, portanto, uma tarefa de toda a nossa vida.
c) Como a educação abrange o ser humano completo, não podemos reduzi-la à mera INSTRUÇÃO. O melhor e mais abrangente TERMO para se classificar Educação é a palavra FORMAÇÃO.
d) Se é indispensável alimentar a inteligência do educando, não é menos importante formar a sua vontade, o seu carácter, o seu coração.
e) Os Educadores, nomeadamente os Pais, não estão dispensados da sua própria formação, ao longo da vida, não só a título pessoal, como a título do TESTEMUNHO, hoje cada vez mais indispensável (“Palavras leva-as o vento!”).
2 – RELAÇÕES DA FORMAÇÃO:
a) Se na formação ou educação temos de olhar para o homem TODO (corpo e alma), não podemos também esquecer o relacionamento dos educandos com o meio que os rodeia:
1.º - DEUS, de Quem vimos, com Quem vivemos e para Quem caminhamos, Esquecer esta relação é uma TRAIÇÃO gravíssima a Deus, a quem Daremos contas, como ao educando, que Deus criou para a felicidade eterna na condição da nossa colaboração, consciente e activa.
2.º - A IGREJA, a Quem apresentámos as crianças para o Baptismo, a Quem pedimos as aceitasse para a 1.ª Comunhão, Profissão de Fé ou o Crisma, também sobrenaturais oferecidos pela mesma Igreja, particularmente a Reconciliação e a Eucaristia são indispensáveis numa normal Formação.
3.º - A Paróquia, comunidade viva, onde ninguém deve ficar isolado ou desinteressado. A Família Paroquial, particularmente na Catequese de adultos, jovens e crianças, só pode ser uma realidade de promoção dos grandes valores do ser humano, se a sua presença entrar nas preocupações sérias e constantes dos educadores cristãos.
4.º - A Escola, onde os jovens passam a maior parte do seu dia, deve colaborar e sentir o interesse dos educadores, particularmente dos Pais.
Pe. Coelho
domingo, 15 de julho de 2007
Estatuto editorial
O blogue do Jornal "A Partilha", sedeado na localidade de Tourais, concelho de Seia, Serra da Estrela, pretende ser um espaço de partilha de opiniões sobre os temas que vão sendo tratados no jornal em formato de papel. O Blogue aparece assim com várias finalidades, sendo uma das quais alargar o leque de leitores a todo o país, bem como, promover a opinião e comentários aos artigos, permitindo um feed-back entre os escritores e os leitores. O Blogue será actualizado a cada edição do jornal em formato de papel com periodicidade bimestral. Nesta edição o tema é "O Desemprego no Concelho de Seia"
Crise! Que crise?
A chamada globalização levou muitos países a redefinir as suas estratégias produtivas (quando as tinham). Portugal está também a atravessar uma fase de ajustamento estrutural muito forte, verificando-se por parte das empresas uma aposta cada vez maior nas áreas de média e alta tecnologia, com menor necessidade de mão-de-obra, e um desinvestimento nos produtos em que já fomos grandes interlocutores no comércio mundial, como os têxteis e o calçado. No entanto, mesmo nestes sectores há exemplos de empresários que aproveitaram os fundos estruturais que tinham ao dispor e apostaram na modernização das suas empresas. Para estes, e seus funcionários, não há falta de encomendas e de trabalho. As empresas que não se modernizaram sofrem agora as consequências desse facto, e vamos registando as dificuldades de se manterem a laborar. Para muitas o encerramento é inevitável, algumas na nossa região. Algumas destas empresas eram grandes empregadoras nas regiões onde funcionavam, lançando um quadro de crise na sociedade quando não existem propostas de emprego que compensem os postos de trabalho extintos.
A crise não é sentida da mesma forma nas várias regiões do país. Há diferenças significativas entre o litoral e o interior, e memo nestas regiões o panorama não é igual. Ainda há dias víamos um autarca de uma região onde chegou finalmente um troço de auto-estrada a referir que isso já se estava a reflectir no interesse de empresários para investir nessa região. Ou seja, há um interior servido por boas vias de comunicação, e o interior em que as vias de comunicação que as servem estão pejadas de sinalização impeditiva de um tráfego mais rápido. O concelho de Seia é um exemplo do que acabo de referir. Demoramos tanto tempo a ir de Seia a Viseu como a chegar de Viseu ao Porto! As empresas aqui instaladas sofrem as consequências desta realidade. Por exemplo, muitas das máquinas instaladas no concelho dependem da assistência de técnicos que se deslocam de grandes distâncias. A produção de algumas empresas é colocada em mercados distantes. Isto reflecte-se no custo de produção. Ora, cada vez menos se compete com o produto mas sim com a capacidade e o custo na sua produção. Até os turistas que visitam esta região sentem esta realidade, sendo facilmente seduzidos pelos melhores traçados.
Cabe ao Município, aos autarcas, à comunidade empresarial, intervirem ao nível do poder político que define as estratégias de investimento em termos de vias de comunicação. É fundamental uma ligação rápida de Seia à A-25. A luta pela criação das novas instalações do Hospital de Seia poderá ter fragilizado esta pretensão, tornando-a secundária. Parece que se retoma agora este tema, mas temo que se tenha perdido tempo decisivo, que se reflecte no presente e no futuro imediato, talvez de forma irreversível.
Cada região enfrenta as crises em função da sua dinâmica empresarial e do seu capital humano. O concelho de Seia tem vindo a perder população, principalmente da faixa etária mais jovem. A conclusão do ensino superior leva muitos jovens licenciados a procurar oportunidades noutras regiões, uma vez que, na sua grande maioria, as empresas da região não conseguem atraí-los. Alguns estão a emigrar… É importante aproveitar a formação que se ministra na Escola Superior de Turismo e Telecomunicações e na Escola Profissional da Serra da Estrela, adequando os cursos às necessidades das empresas.
O novo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) assume como um dos seus grandes desígnios a qualificação dos portugueses, destinando verbas significativas para este fim. Há que sensibilizar a população activa e as empresas para este facto, aproveitando as ajudas financeiras que têm ao dispor. Os desempregados devem aproveitar esta fase da sua vida para se valorizarem e qualificarem. As empresas devem aproveitar os apoios existentes no apoio à contratação de pessoas com longa duração de desemprego, e programas de estágios profissionais, que lhes permitem valorizar os seus recursos humanos com menores custos. O novo QREN, associado aos investimentos co-financiados pelo Fundo Social Europeu e alguns Programas Operacionais poderão ser decisivos para a sobrevivência e relançamento de muitas empresas, mas é necessário que estas se informem rapidamente dos passos a dar.
A nossa proximidade à fronteira deveria ser uma mais valia a apresentar aos potenciais investidores que apostem na exportação dos seus produtos. A nossa ligação íntima à Serra da Estrela e ao seu vasto património, não é ainda suficientemente mediatizada, havendo municípios vizinhos que o fazem melhor, retirando daí dividendos. Também os recursos naturais como o vento, o sol e a floresta não estão aproveitados na plenitude no nosso concelho. Estas parecem-me mais valias que o concelho tem para oferecer, e que poderão despertar o interesse dos investidores numa perspectiva mais global de criação de riqueza.
Por: João Alves (Médico/Dentista)
A crise não é sentida da mesma forma nas várias regiões do país. Há diferenças significativas entre o litoral e o interior, e memo nestas regiões o panorama não é igual. Ainda há dias víamos um autarca de uma região onde chegou finalmente um troço de auto-estrada a referir que isso já se estava a reflectir no interesse de empresários para investir nessa região. Ou seja, há um interior servido por boas vias de comunicação, e o interior em que as vias de comunicação que as servem estão pejadas de sinalização impeditiva de um tráfego mais rápido. O concelho de Seia é um exemplo do que acabo de referir. Demoramos tanto tempo a ir de Seia a Viseu como a chegar de Viseu ao Porto! As empresas aqui instaladas sofrem as consequências desta realidade. Por exemplo, muitas das máquinas instaladas no concelho dependem da assistência de técnicos que se deslocam de grandes distâncias. A produção de algumas empresas é colocada em mercados distantes. Isto reflecte-se no custo de produção. Ora, cada vez menos se compete com o produto mas sim com a capacidade e o custo na sua produção. Até os turistas que visitam esta região sentem esta realidade, sendo facilmente seduzidos pelos melhores traçados.
Cabe ao Município, aos autarcas, à comunidade empresarial, intervirem ao nível do poder político que define as estratégias de investimento em termos de vias de comunicação. É fundamental uma ligação rápida de Seia à A-25. A luta pela criação das novas instalações do Hospital de Seia poderá ter fragilizado esta pretensão, tornando-a secundária. Parece que se retoma agora este tema, mas temo que se tenha perdido tempo decisivo, que se reflecte no presente e no futuro imediato, talvez de forma irreversível.
Cada região enfrenta as crises em função da sua dinâmica empresarial e do seu capital humano. O concelho de Seia tem vindo a perder população, principalmente da faixa etária mais jovem. A conclusão do ensino superior leva muitos jovens licenciados a procurar oportunidades noutras regiões, uma vez que, na sua grande maioria, as empresas da região não conseguem atraí-los. Alguns estão a emigrar… É importante aproveitar a formação que se ministra na Escola Superior de Turismo e Telecomunicações e na Escola Profissional da Serra da Estrela, adequando os cursos às necessidades das empresas.
O novo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) assume como um dos seus grandes desígnios a qualificação dos portugueses, destinando verbas significativas para este fim. Há que sensibilizar a população activa e as empresas para este facto, aproveitando as ajudas financeiras que têm ao dispor. Os desempregados devem aproveitar esta fase da sua vida para se valorizarem e qualificarem. As empresas devem aproveitar os apoios existentes no apoio à contratação de pessoas com longa duração de desemprego, e programas de estágios profissionais, que lhes permitem valorizar os seus recursos humanos com menores custos. O novo QREN, associado aos investimentos co-financiados pelo Fundo Social Europeu e alguns Programas Operacionais poderão ser decisivos para a sobrevivência e relançamento de muitas empresas, mas é necessário que estas se informem rapidamente dos passos a dar.
A nossa proximidade à fronteira deveria ser uma mais valia a apresentar aos potenciais investidores que apostem na exportação dos seus produtos. A nossa ligação íntima à Serra da Estrela e ao seu vasto património, não é ainda suficientemente mediatizada, havendo municípios vizinhos que o fazem melhor, retirando daí dividendos. Também os recursos naturais como o vento, o sol e a floresta não estão aproveitados na plenitude no nosso concelho. Estas parecem-me mais valias que o concelho tem para oferecer, e que poderão despertar o interesse dos investidores numa perspectiva mais global de criação de riqueza.
Por: João Alves (Médico/Dentista)
Desemprego - Uma responsabilidade de todos
O desemprego é um problema social que afecta inúmeras famílias de forma profunda, gerando em muitos casos situações de profunda dificuldade económica.
Contudo, nos tempos que correm, ele é natural e torna-se prolongado em face da falta de qualificação das pessoas.
Na verdade, ao longo das últimas décadas os governos e os patrões não investiram na formação da população activa, dando-lhe competências variadas. Esta falta de investimento nas qualificações, aliada à falta de tempo e muitas vezes de condições económicas dos trabalhadores para procurar essa formação, por sua iniciativa, levou a que uma grande parte da população activa portuguesa tenha poucas qualificações.
A falta de formação não era um problema há 20, 30, 40 anos. Na verdade, o emprego era encarado como um casamento para a vida, ou seja, uma pessoa tendia a ter o mesmo emprego, na mesma empresa, durante toda a vida. Quantos não conhecem histórias de pessoas que desde tenra idade e até à reforma trabalharam para o mesmo empregador.
Contudo, essa é uma realidade do passado, mas que afecta as pessoas nos dias de hoje. Actualmente já é comum a pessoa ter o mesmo emprego, a mesma actividade, mas ter variados empregadores ao longo da sua vida profissional.
No futuro, que já se vê em parte no presente, a mesma pessoa terá várias profissões e vários empregadores, numas alturas será patrão e noutras trabalhador por conta de outrem. A mesma pessoa poderá ser camionista e depois carteiro, para a seguir explorar um restaurante e depois trabalhar nos serviços administrativos de uma empresa.
Chama-se a isso adaptabilidade, e para a atingir é necessário ter uma forte formação de base que permita que a pessoa, com os conhecimentos que tem, possa adaptar-se com rapidez a diferentes profissões.
O problema é que esta realidade económica do emprego foi muito mais veloz do que o investimento na formação de base. Assim, já hoje o mercado exige, chama por esta adaptabilidade, sem que uma grande parte dos trabalhadores a possa oferecer por falta dessa formação.
Estas duas realidades, evoluindo a duas velocidades, geram inevitavelmente desemprego de longa duração. As pessoas perdem os seus empregos pelos mais variados motivos, com ou sem culpa, e ficam muitas vezes amarrados à profissão que conhecem, sem condições de se adaptarem a uma outra nova, diferente.
Muitas profissões do antigamente escasseiam nos dias de hoje, algumas profissões já não se exercem, a modernização tecnológica leva a que as industrias necessitem de menos trabalhadores. Ora, todos estes factores, aliados à falta de formação de base, levam a que o desemprego se prolongue, com custos altos, quer para a própria pessoa, quer para o Estado, com a despesa do subsidio de desemprego ou rendimento social de inserção.
Aqui no interior, e particularmente no concelho de Seia, sente-se profundamente este flagelo, porque o emprego é pouco, a indústria que havia faliu, sendo pouca a que heroicamente resiste, as grandes empresas de electricidade e construção civil deslocalizaram os seus serviços, sendo que a restante actividade de pequeno comércio e pequena indústria tem sido afectada pela crise que o país vive, o que a impede de crescer, levando, também aí, a situações de desemprego.
Aqui, para além dos factores supra referidos da responsabilidade da Administração Central, outros há que agravam ainda mais esta situação.
O executivo socialista da Câmara não tem querido, ou não tem sabido, promover a renovação do tecido comercial, industrial e de serviços. Passados dois anos, a Área de Localização Empresarial da Abrunheira ainda não fervilha como devia e era suposto se a dinâmica empresarial do concelho fosse maior e mais forte. Louvem-se os que ali já construiriam as suas instalações e boa sorte nos seus investimentos. Esses fizeram a sua parte, mas muito mais há a fazer pela Câmara para que outros se lhe juntem e essa dinâmica exista.
As outras áreas de investimento também andam a velocidades medíocres, incompatíveis com as necessidades de criação de emprego do concelho
Se o investimento público estatal é fundamental para o crescimento das regiões do interior, uma dinâmica forte, uma actividade visível de atracção de investimento por parte da Câmara Municipal também é essencial para que os privados se mobilizem, confiem e invistam.
Ora, essa actuação não existe por parte da Câmara, que gosta muito de anunciar dinâmica de actuação, mas dos anúncios não passa, porque os resultados não são visíveis.
Ora, só com actuações e resultados concretos, palpáveis, visíveis, que se transformem em atracção de investimento exterior ao concelho e em motivação do investimento local, será possível contribuir para que os privados criem emprego e a autarquia local possa dizer que faz o que lhe compete.
Enquanto tal não suceder o actual executivo socialista terá que assumir localmente tanta responsabilidade como a do Governo na escalada do desemprego para os valores mais altos dos últimos 10 anos.
Por: Nuno Almeida (Advogado e Deputado Municipal pelo PSD)
Contudo, nos tempos que correm, ele é natural e torna-se prolongado em face da falta de qualificação das pessoas.
Na verdade, ao longo das últimas décadas os governos e os patrões não investiram na formação da população activa, dando-lhe competências variadas. Esta falta de investimento nas qualificações, aliada à falta de tempo e muitas vezes de condições económicas dos trabalhadores para procurar essa formação, por sua iniciativa, levou a que uma grande parte da população activa portuguesa tenha poucas qualificações.
A falta de formação não era um problema há 20, 30, 40 anos. Na verdade, o emprego era encarado como um casamento para a vida, ou seja, uma pessoa tendia a ter o mesmo emprego, na mesma empresa, durante toda a vida. Quantos não conhecem histórias de pessoas que desde tenra idade e até à reforma trabalharam para o mesmo empregador.
Contudo, essa é uma realidade do passado, mas que afecta as pessoas nos dias de hoje. Actualmente já é comum a pessoa ter o mesmo emprego, a mesma actividade, mas ter variados empregadores ao longo da sua vida profissional.
No futuro, que já se vê em parte no presente, a mesma pessoa terá várias profissões e vários empregadores, numas alturas será patrão e noutras trabalhador por conta de outrem. A mesma pessoa poderá ser camionista e depois carteiro, para a seguir explorar um restaurante e depois trabalhar nos serviços administrativos de uma empresa.
Chama-se a isso adaptabilidade, e para a atingir é necessário ter uma forte formação de base que permita que a pessoa, com os conhecimentos que tem, possa adaptar-se com rapidez a diferentes profissões.
O problema é que esta realidade económica do emprego foi muito mais veloz do que o investimento na formação de base. Assim, já hoje o mercado exige, chama por esta adaptabilidade, sem que uma grande parte dos trabalhadores a possa oferecer por falta dessa formação.
Estas duas realidades, evoluindo a duas velocidades, geram inevitavelmente desemprego de longa duração. As pessoas perdem os seus empregos pelos mais variados motivos, com ou sem culpa, e ficam muitas vezes amarrados à profissão que conhecem, sem condições de se adaptarem a uma outra nova, diferente.
Muitas profissões do antigamente escasseiam nos dias de hoje, algumas profissões já não se exercem, a modernização tecnológica leva a que as industrias necessitem de menos trabalhadores. Ora, todos estes factores, aliados à falta de formação de base, levam a que o desemprego se prolongue, com custos altos, quer para a própria pessoa, quer para o Estado, com a despesa do subsidio de desemprego ou rendimento social de inserção.
Aqui no interior, e particularmente no concelho de Seia, sente-se profundamente este flagelo, porque o emprego é pouco, a indústria que havia faliu, sendo pouca a que heroicamente resiste, as grandes empresas de electricidade e construção civil deslocalizaram os seus serviços, sendo que a restante actividade de pequeno comércio e pequena indústria tem sido afectada pela crise que o país vive, o que a impede de crescer, levando, também aí, a situações de desemprego.
Aqui, para além dos factores supra referidos da responsabilidade da Administração Central, outros há que agravam ainda mais esta situação.
O executivo socialista da Câmara não tem querido, ou não tem sabido, promover a renovação do tecido comercial, industrial e de serviços. Passados dois anos, a Área de Localização Empresarial da Abrunheira ainda não fervilha como devia e era suposto se a dinâmica empresarial do concelho fosse maior e mais forte. Louvem-se os que ali já construiriam as suas instalações e boa sorte nos seus investimentos. Esses fizeram a sua parte, mas muito mais há a fazer pela Câmara para que outros se lhe juntem e essa dinâmica exista.
As outras áreas de investimento também andam a velocidades medíocres, incompatíveis com as necessidades de criação de emprego do concelho
Se o investimento público estatal é fundamental para o crescimento das regiões do interior, uma dinâmica forte, uma actividade visível de atracção de investimento por parte da Câmara Municipal também é essencial para que os privados se mobilizem, confiem e invistam.
Ora, essa actuação não existe por parte da Câmara, que gosta muito de anunciar dinâmica de actuação, mas dos anúncios não passa, porque os resultados não são visíveis.
Ora, só com actuações e resultados concretos, palpáveis, visíveis, que se transformem em atracção de investimento exterior ao concelho e em motivação do investimento local, será possível contribuir para que os privados criem emprego e a autarquia local possa dizer que faz o que lhe compete.
Enquanto tal não suceder o actual executivo socialista terá que assumir localmente tanta responsabilidade como a do Governo na escalada do desemprego para os valores mais altos dos últimos 10 anos.
Por: Nuno Almeida (Advogado e Deputado Municipal pelo PSD)
Um interior cada vez mais paisagem...
Em Maio tivemos uma surpreendente notícia sobre despedimentos na Delphi (empresa de cablagens localizada na Guarda), facto que para mim é sem dúvida importante uma vez que se trata de um drama social e regional! No entanto, esta situação parece não afectar outras sensibilidades, uma vez que as gafes do ministro das obras públicas sobre a Margem Sul do Tejo e outras sobre a temática da localização do novo aeroporto da Ota parecem empolgar um dramatismo sem precedentes a nível nacional.
Anteriormente já tínhamos assistido, passivamente, ao encerramento da Roche (Pinhel). Parece que no Interior estamos de facto condenados a procurar o Litoral na busca de oportunidades de emprego. Não quero imaginar aqueles cidadãos, nossos conterrâneos que se vêm de um momento sem o emprego que serve de sustento à sua vida e daqueles que os rodeiam. Portugal mantém-se tranquilo na sua crise económica, ainda que quem nos visite apenas o note ao deambular pelas ruas. Uma taxa de desemprego elevada, mesmo que nos pareça baixa em comparação com outros países. Mas para alguém que sempre viveu a trabalhar, o desemprego pode supor a perda do sentido de vida. E muito me admira que depressão económica não tenha ainda arrastado muitos para a depressão clínica, pois já imaginaram a quantidade de dúvidas, medos, frustrações, desilusões, que passam pelo pensamento das pessoas que se encontram nesta situação?
É nestas condições que damos especial valor ao fundo de desemprego. Esquecendo o facto que muitos são os que se aproveitam de um fundo justo, para o adulterar no que diz respeito ao seu objectivo, tornando-o aos nossos olhos, em algo injusto. Mas o que seria destas pessoas se não existisse este fundo quando de um momento para o outro se vêm sem nada a que se agarrar?
Perante a escassez de oportunidades no Interior, resta procurar realizar o nosso projecto de vida noutros locais: no litoral ou até mesmo no estrangeiro. Muitos serão os medos, as dúvidas, próprias de quem terá uma mudança no seu estilo de vida, no entanto algo tem de ser feito e esta via pode ser a melhor opção. Também não sei se fará sentido falar-se em opção, uma vez que optar implica escolher uma de duas ou mais coisas, o que neste caso infelizmente não acontece. Ficar de braços cruzados à espera que o governo tudo resolva é que não é certamente uma opção!
O Interior não pode continuar parado, lamentando que a administração central apenas apoia o Litoral e as Ilhas, que o Interior é sempre penalizado, que o poder está cada vez mais centralizado. São anos a bater na mesma tecla e os resultados têm sido... praticamente nulos. Para a evolução real do interior é necessário: diagnosticar e resolver rapidamente os problemas que estão mais directamente correlacionados com a falta de oportunidades de emprego, perceber quais serão as vantagens que poderemos oferecer face a outras regiões de forma a sermos mais atractivos para o tecido empresarial e potencializar essas vantagens a longo prazo, para que sejamos sempre os melhores naquilo que temos de melhor. E não contem muito com o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), porque o baú do tesouro já tem destino: o problema dramático nacional – OTA e TGV! O resto é paisagem!
Anteriormente já tínhamos assistido, passivamente, ao encerramento da Roche (Pinhel). Parece que no Interior estamos de facto condenados a procurar o Litoral na busca de oportunidades de emprego. Não quero imaginar aqueles cidadãos, nossos conterrâneos que se vêm de um momento sem o emprego que serve de sustento à sua vida e daqueles que os rodeiam. Portugal mantém-se tranquilo na sua crise económica, ainda que quem nos visite apenas o note ao deambular pelas ruas. Uma taxa de desemprego elevada, mesmo que nos pareça baixa em comparação com outros países. Mas para alguém que sempre viveu a trabalhar, o desemprego pode supor a perda do sentido de vida. E muito me admira que depressão económica não tenha ainda arrastado muitos para a depressão clínica, pois já imaginaram a quantidade de dúvidas, medos, frustrações, desilusões, que passam pelo pensamento das pessoas que se encontram nesta situação?
É nestas condições que damos especial valor ao fundo de desemprego. Esquecendo o facto que muitos são os que se aproveitam de um fundo justo, para o adulterar no que diz respeito ao seu objectivo, tornando-o aos nossos olhos, em algo injusto. Mas o que seria destas pessoas se não existisse este fundo quando de um momento para o outro se vêm sem nada a que se agarrar?
Perante a escassez de oportunidades no Interior, resta procurar realizar o nosso projecto de vida noutros locais: no litoral ou até mesmo no estrangeiro. Muitos serão os medos, as dúvidas, próprias de quem terá uma mudança no seu estilo de vida, no entanto algo tem de ser feito e esta via pode ser a melhor opção. Também não sei se fará sentido falar-se em opção, uma vez que optar implica escolher uma de duas ou mais coisas, o que neste caso infelizmente não acontece. Ficar de braços cruzados à espera que o governo tudo resolva é que não é certamente uma opção!
O Interior não pode continuar parado, lamentando que a administração central apenas apoia o Litoral e as Ilhas, que o Interior é sempre penalizado, que o poder está cada vez mais centralizado. São anos a bater na mesma tecla e os resultados têm sido... praticamente nulos. Para a evolução real do interior é necessário: diagnosticar e resolver rapidamente os problemas que estão mais directamente correlacionados com a falta de oportunidades de emprego, perceber quais serão as vantagens que poderemos oferecer face a outras regiões de forma a sermos mais atractivos para o tecido empresarial e potencializar essas vantagens a longo prazo, para que sejamos sempre os melhores naquilo que temos de melhor. E não contem muito com o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), porque o baú do tesouro já tem destino: o problema dramático nacional – OTA e TGV! O resto é paisagem!
Por Carlos Tavares (Consultor)
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