domingo, 15 de julho de 2007

Crise! Que crise?

A chamada globalização levou muitos países a redefinir as suas estratégias produtivas (quando as tinham). Portugal está também a atravessar uma fase de ajustamento estrutural muito forte, verificando-se por parte das empresas uma aposta cada vez maior nas áreas de média e alta tecnologia, com menor necessidade de mão-de-obra, e um desinvestimento nos produtos em que já fomos grandes interlocutores no comércio mundial, como os têxteis e o calçado. No entanto, mesmo nestes sectores há exemplos de empresários que aproveitaram os fundos estruturais que tinham ao dispor e apostaram na modernização das suas empresas. Para estes, e seus funcionários, não há falta de encomendas e de trabalho. As empresas que não se modernizaram sofrem agora as consequências desse facto, e vamos registando as dificuldades de se manterem a laborar. Para muitas o encerramento é inevitável, algumas na nossa região. Algumas destas empresas eram grandes empregadoras nas regiões onde funcionavam, lançando um quadro de crise na sociedade quando não existem propostas de emprego que compensem os postos de trabalho extintos.
A crise não é sentida da mesma forma nas várias regiões do país. Há diferenças significativas entre o litoral e o interior, e memo nestas regiões o panorama não é igual. Ainda há dias víamos um autarca de uma região onde chegou finalmente um troço de auto-estrada a referir que isso já se estava a reflectir no interesse de empresários para investir nessa região. Ou seja, há um interior servido por boas vias de comunicação, e o interior em que as vias de comunicação que as servem estão pejadas de sinalização impeditiva de um tráfego mais rápido. O concelho de Seia é um exemplo do que acabo de referir. Demoramos tanto tempo a ir de Seia a Viseu como a chegar de Viseu ao Porto! As empresas aqui instaladas sofrem as consequências desta realidade. Por exemplo, muitas das máquinas instaladas no concelho dependem da assistência de técnicos que se deslocam de grandes distâncias. A produção de algumas empresas é colocada em mercados distantes. Isto reflecte-se no custo de produção. Ora, cada vez menos se compete com o produto mas sim com a capacidade e o custo na sua produção. Até os turistas que visitam esta região sentem esta realidade, sendo facilmente seduzidos pelos melhores traçados.
Cabe ao Município, aos autarcas, à comunidade empresarial, intervirem ao nível do poder político que define as estratégias de investimento em termos de vias de comunicação. É fundamental uma ligação rápida de Seia à A-25. A luta pela criação das novas instalações do Hospital de Seia poderá ter fragilizado esta pretensão, tornando-a secundária. Parece que se retoma agora este tema, mas temo que se tenha perdido tempo decisivo, que se reflecte no presente e no futuro imediato, talvez de forma irreversível.
Cada região enfrenta as crises em função da sua dinâmica empresarial e do seu capital humano. O concelho de Seia tem vindo a perder população, principalmente da faixa etária mais jovem. A conclusão do ensino superior leva muitos jovens licenciados a procurar oportunidades noutras regiões, uma vez que, na sua grande maioria, as empresas da região não conseguem atraí-los. Alguns estão a emigrar… É importante aproveitar a formação que se ministra na Escola Superior de Turismo e Telecomunicações e na Escola Profissional da Serra da Estrela, adequando os cursos às necessidades das empresas.
O novo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) assume como um dos seus grandes desígnios a qualificação dos portugueses, destinando verbas significativas para este fim. Há que sensibilizar a população activa e as empresas para este facto, aproveitando as ajudas financeiras que têm ao dispor. Os desempregados devem aproveitar esta fase da sua vida para se valorizarem e qualificarem. As empresas devem aproveitar os apoios existentes no apoio à contratação de pessoas com longa duração de desemprego, e programas de estágios profissionais, que lhes permitem valorizar os seus recursos humanos com menores custos. O novo QREN, associado aos investimentos co-financiados pelo Fundo Social Europeu e alguns Programas Operacionais poderão ser decisivos para a sobrevivência e relançamento de muitas empresas, mas é necessário que estas se informem rapidamente dos passos a dar.
A nossa proximidade à fronteira deveria ser uma mais valia a apresentar aos potenciais investidores que apostem na exportação dos seus produtos. A nossa ligação íntima à Serra da Estrela e ao seu vasto património, não é ainda suficientemente mediatizada, havendo municípios vizinhos que o fazem melhor, retirando daí dividendos. Também os recursos naturais como o vento, o sol e a floresta não estão aproveitados na plenitude no nosso concelho. Estas parecem-me mais valias que o concelho tem para oferecer, e que poderão despertar o interesse dos investidores numa perspectiva mais global de criação de riqueza.

Por: João Alves (Médico/Dentista)

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