quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Instituições Particulares de Solidariedade Social

Depois das Exposocial – Mostra de Serviços de Apoio Social do Concelho de Seia (2003, 2005, 2007), ficou perfeitamente claro “o importante papel que estas entidades representam na economia local e regional, referenciando até o enorme relevo que possuem como empregadores”, segundo o “Porta da Estrela” de 12-02-2007. Ainda há dias li num dos jornais de uma dessas instituições ou equiparada que era o maior empregador da freguesia. Não sei se esse é também o caso da Associação de Tourais, mas se não for, é, com certeza, um dos maiores, e numa altura em que por estas bandas só se fala (ou falava) em desemprego é bom ler notícias dessas, por termos a certeza que são verdadeiras e por garantirem alguma estabilidade do emprego, embora a este propósito não seja demais repetir que cada um de nós deve contar com umas seis ou mais mudanças de emprego ao longo da vida activa, e que a grande arma para enfrentar a mudança chama-se formação contínua, por muitas e doutorais opiniões em sentido contrário que se ouçam em cada esquina, ou por muito descrédito que mereçam algumas das acções que se processaram ou vão processando, quer em termos de conteúdos, quer em termos de formadores, quer em efeitos imediatos na manutenção ou na promoção da carreira. Pelo que lemos nas entrevistas dadas pelos utentes aos jornais das instituições, ou pelo que ouvimos nas conversas de ocasião ou na visita, de um modo geral os serviços oferecidos são tidos como bons e o desempenho dos funcionários, seja qual for a categoria, se não é bom, anda por lá, o que é, de novo, uma boa notícia, e sabe-se, ou imagina-se, que são tarefas delicadas e muito exigentes, desde as aparentemente simples, como entregar uma refeição ou passar um pano de pó por uma mesa, às mais complexas, como as referentes à animação dos idosos ou aos cuidados a prestar. Donde, a necessidade da tal formação ao longo da vida. O “eu já sei tudo” ou “já me ensinaram tudo” foi chão que deu uvas, se alguma vez as deu. Afinal, uma das constantes da vida é exactamente a mudança: é o que temos certo todos os dias, e durante cada uma das 24 horas de cada dia. Não é só a morte que está certa. Este papel importantíssimo que as instituições desempenham ou podem desempenhar, não advém do facto de serem particulares, também as há públicas, mostrando estudos a nível europeu que o particular está longe do público (lá chegará, se chegar), em qualquer sector de actividade, embora apareçam diariamente uns arautos da verdade absoluta a proclamar a excelência do particular e a insuficiência do público, o costume. Neste caso, a tão apregoada sociedade civil, que somos todos nós, e não os outros, tem pesadas responsabilidades (é ela que não sabe, ou não quer saber, o que há-de fazer dos infantes e dos pais), pelo que é suposto que avance com propostas para a criação de instituições adequadas: um povo – e não só o Governo desse povo – que não cuida das suas crianças e dos seus idosos tem o destino marcado, tudo isto é fado, e se os oitocentos e tal anos de vida do povo aguentam muita coisa não disfarçam atrasos nas habilitações para o trabalho nem deficiências no tratamento da infância e da velhice. A propósito, viu-se num recente estudo, apesar de um 19º lugar em 29 países, que ficamos em primeiro lugar em cada um dos 3 itens relativos à infância, o que é uma excelente notícia. Mais: é uma esperança fundada de que o mesmo nível pode ser atingido relativamente à terceira idade. Exactamente com os institutos, as instituições, as fundações, as associações, que sei eu mais, particulares (acrescentem-se as públicas), por todo o território espalhadas. A insistência no magnífico trabalho que tem sido feito não deve esconder dificuldades nem deficiências. Há muitas questões, e pertinentes, que todos os dias se põem, desde a falta momentânea de condições até aos encerramentos. Reconhecer, corrigir, adaptar, respeitar a legislação, são objectivos a prosseguir para atingir esse primeiro lugar. Por outro lado, a obsessão com “os nossos velhinhos” (esta é uma expressão deprimente, que admite talvez uma excepção quando se diz “está a ficar velhinho”), que tantas vezes enfeita o discurso dos responsáveis, não deve criar falsas ilusões acerca das condições de acesso às instituições e da utilização das mesmas. Como sénior bem aviado gostaria de ver invertido o destaque que se põe na instituição a favor do papel fundamental que os seniores, idosos, terceira idade, segundo a terminologia oficial, podem desempenhar como elementos de uma equipa capaz de fazer coisas rentáveis para o bem de todos, logo, da instituição, e para seu gozo pessoal, de acordo com as “forças” e a disposição. Não desperdiçar talentos, nem capacidades, nem habilidades, e, sobretudo, não desperdiçar a experiência de uma vida, é uma regra de ouro. (Vendo-a pelo preço por que a comprei). Paradoxalmente a terceira idade, se não a quarta, é a idade do futuro, lestes bem, ó jovens: não tarda assim tanto que os seniores sejam o dobro dos juniores, neste continente que nos coube, sem qualquer interesse em manter as taxas da natalidade. Não, não é só a questão económica, todos o sabemos, por isso a invocamos.
Luís Alves Martins

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