sexta-feira, 18 de abril de 2008

A Educação

A Educação é um processo complexo, com muitas vertentes, mas que pode resumir-se assim: conjunto de actos que têm como objectivo formar integralmente, harmoniosamente, a pessoa humana, em ordem à sua realização plena. Tão completa quanto possível e sempre em ordem a servir, a melhorar, a sociedade em que o educando se insere. Este princípio adapta-se a todas as filosofias e culturas dominantes.
Como a natureza humana é de índole psicossomática, corporal e espiritual, a Educação não será completa se não tiver em conta as dimensão física, afectiva, intelectual, moral, social, cultural, espiritual e religiosa da pessoa. Educação que fuja a uma só destas vertentes, falhará. Será tudo, menos Educação. Esta deverá ser integral e harmoniosa, como se diz no princípio.
Necessitam de Educação todos os seres humanos, desde o princípio ao fim da sua vida neste mundo, tendo em conta as diversas fases da vida por que passam: na infância, todos somos mais receptivos e por isso devemos adquirir as bases, os conhecimentos vitais, que vão formando o carácter, em ordem ao discernimento moral, à prática da Verdade e do Bem. A adolescência exige uma correcta educação dos afectos, a que podemos chamar educação sexual, saudável, que não seja apenas biológica, uma espécie de mercadoria estragada, presente envenenado, que certos interesses, certos poderes e certos poderosos pretendem impingir. Na juventude, a Educação deverá orientar-se no sentido da integração social, das escolhas, profissional e outras. Na fase adulta e mesmo na velhice, a Educação assume aspectos específicos, seja para actualizar conhecimentos e competências, seja para aprofundar as grandes realidades da vida ou até para enfrentar as crises da idade e da saúde. A Educação deve acompanhar todo o nosso existir no tempo, respeitar a maneira de ser de cada pessoa e motivá-la a colaborar na sua formação. Para quem for cristão, a face mais nobre da Educação consiste em configurar-se a Jesus Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Isso condiciona todo o seu agir.
Quem deve educar? Essa é a grande questão. Nos diversos agentes educativos surge, em primeiro lugar a Família, os pais, como primeiros e principais educadores dos filhos. Vem a seguir a Escola, nos seus vários níveis, com maior impacto no Básico. Também a Sociedade Urbana, com os potentes meios (televisão, telemóveis, computadores, Internet) de que dispõe influencia a educação de “massas”. O Estado tem obrigação de defender e promover o bem comum, respeitando os direitos/deveres dos restantes agentes educativos, entre os quais se situa a Igreja. Igreja que está presente em todos os outros agentes, quer agindo em jeito de fermento e sal na massa, quer como Instituição, amparando a Família com uma pastoral familiar adequada, a Escola com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, o Estado, utilizando os meios que lhe são próprios. A Constituição Pastoral Gaudim et Spes termina o seu número 31 assim: “...o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberam dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar”.
A Educação é isso que acabamos de enumerar. Contudo, se olharmos à volta deparamos com a decepcionante realidade em que estamos mergulhados em termos educativos, mormente nas camadas jovens da população. Cito apenas dois focos: a indisciplina escolar e a criminalidade.
Sua Excelência, o senhor Presidente da República, ao chegar de uma visita de Estado ao Brasil, sentiu-se mal ao visualizar um filme em que, numa escola do norte do País, uma professora era espectacularmente agredida por uma aluna do 9º ano. Chamou a Belém o senhor Procurador Geral da República com quem, à hora em que redigimos estas linhas, esperamos esteja a analisar o problema e o que lhe está na base. Não se vislumbra que medidas vão ser tomadas em ordem a dar uma volta positiva a este género de ocorrência, porque a gestão do Ministério que tutela as escolas não tem sido feita com a serenidade e o bom senso indispensáveis à sua solução cabal.
Nas áreas do crime, deparamos com os responsáveis políticos a pincelar tudo em tonalidades róseas. E no entanto, a realidade é preocupante. É caso para admirar? Não. Se nas escolas acontece o que se sabe, o que não há-de acontecer na rua!...
Ouvimos há dias o senhor ministro que gere os diversos órgãos policiais do nosso País dizer que, para solucionar o problema do crime bastaria coordenar o trabalho da Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e Polícia Judiciária. Isso basta? Não valerá a pena investir, também, a montante?
É na Escola que tudo começa...

Amadeu Gonçalves - in jornal "A Partilha", edição de Abril 2008